Martine Grael. A vela navega-lhe no sangue
Brasileira foi campeã olímpica no Rio de Janeiro e vai estrear-se na Volvo Ocean Race ao serviço da Team Akzo Nobel. Aos 26 anos já leva quase… 27 anos de regatas pelo mundo. É a consequência natural numa família que tem a vela como denominador comum.
Confirmação na Volvo Ocean Race
A imprensa brasileira andava atrás da história há pelo menos uma semana mas a confirmação oficial só chegou no primeiro dia de agosto. Martine Grael vai fazer parte da Team Akzo Nobel na Volvo Ocean Race, prova de 83 mil quilómetros e com a primeira regata a contar marcada para 22 de outubro.
Martine será a primeira brasileira a participar na competição mas a família Grael sabe bem o que a prova representa. O pai, Torben, além de dois títulos olímpicos num total de cinco medalhas, esteve em três edições da mítica prova, ganhando em 2008/09, como skipper da Ericcson 4. Agora, na Akzo Nobel, a jovem estará ao lado de três elementos que faziam parte da equipa do pai no ano do triunfo: Jules Salter, Brad Jackson e Joca Signorini.
A juventude de Martine não é um problema para o skipper da Akzo Nobel, Simeon Tienpont: «É uma das jovens velejadoras mais talentosas do mundo e já provou o que valia ao mais alto nível nos Jogos Olímpicos». No Rio de Janeiro, há um ano, Martine venceu o título na classe 49erFX, fazendo dupla com Kahena Kunze, uma amiga desde a infância.
O «sangue» de Martine é outra das mais-valias, de acordo com Tienpont: «Não é uma surpresa que seja um talento tão completo, tendo em conta a incrível família de velejadores em que cresceu, aprendendo desde pequena a saber o que é preciso para competir ao mais alto nível».
Desde a barriga da mãe…
Martine Grael não tinha como escapar. O pai Torben é considerado um dos melhores velejadores do Brasil e conquistou cinco medalhas olímpicas, com destaque para os títulos na classe Star em 1996 e em 2004. O tio subiu ao pódio olímpico duas vezes, sempre para receber a medalha de bronze. Até o irmão já competiu em Jogos Olímpicos, sem grande sucesso, no Rio de Janeiro.
Mas a paixão pela vela foi-lhe passada pela mãe. No final de 1990, já grávida de sete meses, Andrea participou numa regata feminina no Brasil. Depois, quando Torben andava pelo mundo a competir, foi ela que alimentou o bichinho da vela entre os filhos.
«A minha mãe é o pilar da nossa família. Ela resolve tudo. Quando éramos pequenos, ficava no Brasil a tomar conta de nós. Ela é apaixonada pela vela e a única maneira de velejar era levar-nos. Percebeu que gostávamos e começou a ensinar-nos», contou Martine em 2016 durante os Jogos Olímpicos.
O mérito de Andrea é reforçado por Torben: «O papel dela foi fundamental. Eu estava sempre em competição e era difícil ter tempo. Se fosse fazer esse papel, ia colocar-lhes pressão em cima, como o pai famoso que está a controlar os filhos. Comigo longe e com a Andrea a fazer esse papel, tudo foi mais normal. Eles eram como os outros, a aprender com amigos e com a mãe a ver».
De facto, apesar de velejar desde os quatro anos, Martine nunca percebeu bem o relevo que o pai tinha no desporto. «Nunca falei muito disso», garante a mãe Andrea. «É difícil para uma criança compreender o que é uma conquista olímpica. São demasiado novas. Não é correto dizer a uma criança que o pai é um herói.»
Desafios na Volvo Ocean Race
Vencer o título olímpico a navegar em casa e por apenas dois segundos foi o maior feito na carreira de Martine Grael mas a Volvo Ocean Race é vista como «uma oportunidade muito excitante para aumentar as técnicas de navegação e o nível de preparação física».
«Esta é uma grande oportunidade para mim. Espero aproveitar a experiência e apreender muito com ela. Mais do que tudo, quero provar que pertenço a esta equipa e estou ansiosa para começar a competir com outras equipas», assegurou Martine, em declarações ao site da Akzo Nobel.
Se for como foi até aqui, será uma questão de tempo até começar a dar nas vistas.
RPS