Marion Jones. A glória antes da queda estrondosa
Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, foram o pináculo da carreira de Marion Jones. Com três medalhas de ouro e duas de bronze, a norte-americana foi a principal figura do atletismo. Sete anos depois, após uma vida a defender-se das acusações, confessou finalmente o recurso ao doping. Ex-marido chegou mesmo a dizer que viu Jones injetar-se na Aldeia Olímpica.
Marion Jones era um pouco de tudo. Notabilizou-se pela rapidez a nível nacional logo aos 15 anos, sabia saltar como poucas e, reunindo estas duas características, também fez carreira como basquetebolista, como prova a chegada à WNBA já numa fase decadente da sua vida desportiva e com a glória olímpica ofuscada pelo consumo de doping.
Quando chegou aos Jogos Olímpicos na Austrália tinha 24 anos. Podia ter participado em Barcelona, mas abdicou. Quatro anos depois, em Atlanta, perdeu a vaga por causa de uma lesão. O azar – por vezes misterioso – bateu-lhe à porta mais do que uma vez e, também por isso, fez questão de fazer do evento de Sydney a sua afirmação definitiva.
Impulsionada pelos títulos mundiais nos 100 metros (Atenas-1997 e Sevilha-1999) e por uma medalha de bronze no salto em comprimento na Andaluzia, Marion Jones quis correr – e saltar – atrás da história na terra dos cangurus.
O objetivo era estrondoso: ganhar cinco títulos olímpicos no atletismo na mesma edição (100 metros, 200 metros, salto em comprimento e estafetas dos 4x100 e 4x400). Era uma fasquia muito ambiciosa mas Marion Jones acreditava no seu valor… e nos seus trunfos obscuros.
A estado-unidense não venceu as cinco provas mas regressou com cinco medalhas: ouro nos 100, 200 e 4x400 e bronze no comprimento e 4x100. O «fracasso» não a impediu de ser considerada a maior figura da competição e ser distinguida com o título de melhor atleta do ano para a Associated Press, Reuters, IAAF e federação norte-americana de atletismo.
Os Mundiais de Edmonton, no ano seguinte, confirmaram o estatuto de Marion Jones mas, por esta altura, já a sua imagem começava a perder luz. As investigações ao uso sistemático de doping por parte de atletas norte-americanos pareciam ir dar sempre a Marion Jones, de forma direta ou indireta. Os treinadores estavam implicados, o ex-marido estava implicado, um namorado também.
O aumento da suspeição foi gradual durante a década mas a glória olímpica só morreu em definitivo em 2007 quando, em lágrimas, Marion Jones anunciou ao mundo que era uma batoteira. Por esta altura, já o ex-marido, o lançador do peso CJ Hunter, tinha testemunhado em tribunal que vira a então mulher injetar-se na barriga na Aldeia Olímpica durante os Jogos de Sydney.
Marion Jones nunca acusou. Por vezes, teve sorte. Noutras, engenho. Há aquelas ainda em que beneficiou de estar mais avançada nas substâncias do que os próprios controlos. Mas, de uma forma ou de outra, foi sempre passando pelos intervalos da chuva. Quando a pressão foi impossível de continuar a controlar, Jones decidiu contar a verdade, abrindo caminho para a sua desqualificação de todas as provas de 2000 e de 2001.
Envergonhada, embaraçada e humilhada em sede própria. A mentira tem perna curta, em contraste com as passadas brilhantes dos atletas mais rápidos do mundo. Marion Jones era-o de origem, mas estragou tudo.