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É Desporto

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13 de Março, 2020

Mack Robinson. A maldição de viver sempre na sombra

Especial Jogos Olímpicos (Berlim-1936)

Rui Pedro Silva

Mack Robinson ao lado de Jesse Owens

Era um dos atletas mais conceituados na comitiva dos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, e conquistou a medalha de prata nos 200 metros… atrás de Jesse Owens. E foi o grande orgulho da família até o irmão mais novo, Jackie, se tornar uma figura lendária do desporto ao tornar-se o primeiro negro a jogar na Major League Baseball.

A seleção de atletismo dos Estados Unidos foi uma das grandes sensações nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. Numa edição marcada pela vontade de fazer uma afirmação política e social, os nazis foram obrigados a suportar sucessivas humilhações na pista.

Jesse Owens, campeão olímpico dos 100 metros, 200 metros, 4x100 metros e salto em comprimento, tornou-se imortal mas… Mack Robinson também esteve lá. Por pouco, mas esteve. E tem uma história para contar que, em poucas palavras, se resume à tendência para ser sempre ofuscado pelos outros, por muito bom que fosse.

Matthew Robinson nasceu no seio de uma família pobre, com muitos irmãos, e com uma mãe que foi obrigada a tomar conta de todos sozinha desde muito cedo. Mudaram-se de malas e bagagens para Pasadena, na Califórnia, e Matthew – que era cada vez mais conhecido apenas por Mack – aproveitou para mostrar o talento para provas de velocidade.

Na preparação para os Jogos Olímpicos de Berlim já era um dos homens mais rápidos do país – tinha 21 anos – mas ir prestar provas para a seleção de atletismo a Nova Iorque era uma tarefa demasiado onerosa. Sem dinheiro, beneficiou de uma campanha de angariação promovida por empresários locais. Os 150 dólares foram mais do que suficientes e Mack Robinson garantiu o passaporte para a Alemanha de Hitler para competir nos 200 metros.

Jesse Owens era o cabeça de cartaz da seleção mas Mack Robinson tinha legítimas aspirações no duplo hectómetro. No dia da final, os dois norte-americanos eram os maiores favoritos e os tempos das eliminatórias anteriores ajudavam a perceber isso. Owens tinha igualado o recorde olímpico por duas vezes com 21,1 segundos, mas Mack não se deixou ficar e registou essa marca na meia-final… e na final.

O problema? Owens decidiu elevar a fasquia e bateu a sua própria melhor marca, conquistando um dos quatro títulos olímpicos com uma marca de 20,7 segundos, que representava um novo recorde mundial. «O meu pai sempre achou que se tivesse sapatilhas melhores, ou algum treinador decente, poderia ter batido Jesse. Ou, pelo menos, ter ficado ainda mais perto», contou, recentemente, uma das filhas ao New York Times.

Mack Robinson era um dos homens mais rápidos do mundo mas ninguém se lembra de quem chega em segundo. E Jesse Owens era uma estrela especial. De regresso aos Estados Unidos, Mack passou por muitas dificuldades. «Se alguém tinha orgulho em mim em Pasadena, tirando a minha família e amigos, nunca me disseram nem mostraram. A única vez que notei alguma coisa foi quando me perguntaram se estaria disponível para correr contra um cavalo», disse uma vez.

A tendência para viver na sombra dos feitos dos outros, mesmo sendo especial, alargou-se à família. Em 1947, onze anos depois da medalha olímpica, um dos irmãos mais novos, Jackie, fez história e tornou-se o primeiro atleta negro a ser utilizado na Major League Baseball. O benjamim quebrou barreiras, combateu a segregação e até no seio da família Robinson fez com que Mack se tornasse uma nota de rodapé.

Pobre, Mack varria as ruas como empregado municipal. Mas, quando foi despedido, juntamente com todos os outros negros numa vingança da câmara contra a decisão de um juiz, não teve outra opção a não ser aproveitar os conhecimentos do irmão para começar a trabalhar nos Dodgers.

Um dos maiores reconhecimentos que teve chegou apenas em 1984, quando Los Angeles acolheu os Jogos Olímpicos pela segunda vez. Mack foi escolhido para ser um dos antigos atletas a carregar uma enorme bandeira dos Estados Unidos durante a cerimónia de abertura.