Ma Li. O golo que entrou para a história
Tinha de acontecer. Era o primeiro jogo do primeiro Mundial, que acabou com uma média superior a três golos por jogo, e em algum momento a bola ia beijar as redes, catapultando a sua responsável para um estatuto histórico na prova.
Calhou a Ma Li, defesa central chinesa, aos 22 minutos do jogo com a Noruega. O trabalho árduo aplicado pelo selecionador, com atenção redobrada nos lances de bola parada, surtiu efeito. Como tinham treinado vezes e vezes sem conta durante a preparação, Ma Li ia ser a principal referência do livre de Wu Weiwing, enquanto Niu Lijie e Zhou Yang tinham a responsabilidade de estarem prontas para a recarga.
Não foi preciso tanto. «O livre da Wu Weiying veio com tanta força que eu quase só precisei de pôr a cabeça na trajetória da bola», explicou Ma Li, recordando à FIFA aquele momento especial de 16 de novembro de 1991, que terminou com uma goleada à Noruega por 4-0 perante 60 mil espetadores.
«Tenho orgulho em ter marcado o primeiro golo na história do Mundial mas não tive essa noção quando marquei», admitiu, lembrando que a equipa estava sob uma grande tensão e sabia que a Noruega ia fazer de tudo para chegar ao empate logo a seguir. «Estávamos tão preocupadas com a estreia no Mundial que só nos conseguíamos concentrar no jogo em si. E marcar não ajudou, não tive tempo para celebrar, nem sequer consegui ouvir a ovação dos fãs. Tinha de fazer o meu melhor para manter a defesa atenta», disse.
A história de Ma Li até chegar ao Mundial não é igual a tantas outras. Sim, o Brasil tinha jogadoras que tinham sido internacionais de andebol ou passado pelo futebol americano na universidade, mas normalmente o passado incluía sempre futebol. Ma Li vinha do… basquetebol.
Quando andava na escola, fazia parte de uma equipa que ganhou todos os campeonatos locais que havia para ganhar. Depois, foi atraída pelo futebol. «Era alta (1,71 metros) e com boa impulsão, por isso os meus treinadores acharam que seria uma boa defesa. Não demorei muito tempo a adaptar-me. Naquele golo, quando saltei para o cabeceamento, foi como se estivesse a saltar para lançar ao cesto», afirmou.
A entrada gloriosa no Mundial não foi acompanhada nos jogos seguintes. A China atingiu os quartos-de-final mas foi eliminada pela Suécia. «A derrota partiu-nos o coração. Estávamos mesmo tristes e chorámos muito. Continua a ser um espinho cravado no meu coração. A dor desta derrota é mais intensa do que a da paixão não correspondida.»