Lin Dan. Não será nada sem o principal rival
Chinês é obcecado com o bronze (na pele) mas nos Jogos Olímpicos só pensa no ouro. A maior motivação que tem é o rival Chong-wei Lee, o adversário que derrotou nas finais de badmínton em Pequim e em Londres.
O pianista que nunca o foi
Os pais de Lin Dan tinham um sonho: que o filho pudesse ser pianista. Assim que sentiram que tinha idade para aprender a tocar, incentivaram-no e tentaram alimentar uma paixão que não tinha fogo por onde arder. A prioridade de Lin Dan era o badmínton.
Nascido a 14 de outubro de 1983, começou a praticar a modalidade com cinco anos. Num país com uma grande tradição, deu nas vistas desde novo e assim que fez 18 anos começou a fazer parte da seleção chinesa.
O ciclo olímpico para Atenas estava no início e Lin Dan piscava o olho à Grécia. Nos Jogos, chegou como primeiro cabeça-de-série e uma enorme ambição de chegar ao triunfo. Mas não passou da primeira ronda, perdendo para Ronald Susilo, de Singapura.
«Acho que joguei de forma muito eficiente, não tive pressa nos pontos», afirmou o carrasco na altura, criticando a estratégia de Lin Dan: «Cometeu demasiados erros não forçados. No final, foi a minha paciência que compensou.»
O melhor de sempre
Lin Dan garante que nunca mudou mas a desilusão inesperada teve o condão de o tornar melhor jogador. O mais talentoso já era, na opinião de muitos, faltava ser declaradamente o melhor.
Se em 2005 não foi além da medalha de prata no Mundial, a partir daí iniciou um longo reinado, com títulos em 2006, 2007, 2009, 2011 e 2013, tornando-se também o primeiro jogador de badmínton na história a vencer o título olímpico em edições consecutivas (2008 e 2012). Nas duas finais derrotou o malaico Chong-wei Lee, atual líder do ranking mundial.
«Estou muito mais maduro agora, consigo aceitar uma derrota. Já estive em três Jogos Olímpicos. Passei por uma fase em que era alguém que ninguém tinha ouvido falar e por uma em que todos me achavam um rebelde, com um forte escrutínio durante 2004. Suportei isso tudo e ganhei os dois títulos olímpicos. Não fiz nada de diferente, estou sempre a dar o meu melhor», garante.
Super Dan ainda tem força
Os resultados demolidores fizeram com que um dos melhores jogadores de sempre, Peter Gade, o apelidasse de Super Dan. «Não tem fraquezas. Outros grandes jogadores têm fraquezas, já trabalhei com alguns e vi outros, mas ele não. É dos melhores, não há dúvidas disso», afirmou Gade.
Dan manteve a humildade, em 2009, e garantiu não ter ilusões de estar ao mesmo nível de atletas como Michael Schumacher, Tiger Woods e Lance Armstrong.
Sete anos depois, é o terceiro do ranking mundial e está no Rio de Janeiro com uma mensagem forte: «Quero mostrar a toda a gente que aos 32 anos, quase 33, ainda consigo jogar.»
«As pessoas continuam a perguntar-me como é que ainda jogo com esta idade. Sinto-me orgulhoso com estes comentários porque aos olhos das pessoas já fiz o suficiente para me retirar. Mas quero fazer mais história, bater mais recordes e chegar ainda mais longe com a minha idade. Provavelmente, acho que vou ganhar outra vez», admite.
Chong-wei Lee como ameaça
O jogador malaio está farto da prata. Aconteceu em 2008 e novamente em 2012. Agora, na liderança do ranking mundial, espera poder fazer algo diferente e o próprio treinador, Tey Seu Bock, já avisou o bicampeão olímpico.
«Chong-wei Lee podia ter razões para estar preocupado há oito anos... e mesmo há quatro. Mas agora é um jogador diferente. Não vai deixar que o Lin Dan o envolva em mind games», afirmou.
Para Lin Dan, a questão é diferente: Lee desempenha um papel fundamental na sua carreira atualmente: «É a única coisa que ainda me mantém motivado. Tenho mais talento do que ele mas é o adversário mais forte e perigoso que por aí ainda. Ele quer o ouro mais do que ninguém e mostra-o. Para conseguir chegar longe no Rio de Janeiro tenho de aprender com ele.»
E até diz mais: irá aos Jogos Olímpicos de Tóquio, com 36 anos, se Lee, com 37, também for.
Reencontro nas meias-finais
O cenário pode não repetir-se desta vez. De acordo com o quadro competitivo, tudo aponta que os dois jogadores se defrontem na meia-final. Mas Lin Dan tem vindo a sofrer de problemas num joelho e pode não estar apto para se mostrar ao mais alto nível.
O primeiro semestre da temporada mostrou bons resultados e a ameaça, no palco olímpico, existe sempre. Mesmo com alguém que faz do bronze da pele uma das prioridades durante o dia.
«Treino diariamente, com exercícios sempre diferentes. De manhã vou ao solário, depois treino e à tarde vou para a piscina relaxar: é a parte mais importante. Gosto de me bronzear e manter a pele escura. Estou habituado a este tom desde 2011 e já nem consigo ver imagens dos meus jogos quando ainda tinha a pele clara», confessa.
Se Chong-wei Lee conseguir a tão desejada desforra na meia-final, Lin Dan poderá sair do Rio de Janeiro com um diferente tipo de bronze. Um menos interessante.
RPS