Lasse Viren. O finlandês voador que inspirou Mo Farah
Especial Jogos Olímpicos (Montreal-1976)
A história não é magra no que diz respeito a atletas que conseguiram a dobradinha nos 5000 e 10000 metros, mas apenas dois podem exibir com orgulho a façanha de o fazer em edições consecutivas. Nos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976, e também à custa de Carlos Lopes, Lasse Viren conseguiu a dupla dobradinha. Exatamente 40 anos depois, o seu feito foi igualado pelo britânico Mo Farah.
As primeiras décadas do século XX ficaram marcadas pela imponência dos finlandeses nas provas de meio-fundo e fundo do atletismo. Hannes Kolehmainen foi o primeiro a abrir caminho e inspirou outros nomes sonantes como Paavo Nurmi e Ville Ritola. Depois, até chegar Lasse Viren, foi preciso esperar várias décadas.
O atleta que foi estrela nos anos 70 nasceu a 22 de julho de 1949. Ainda não era nascido para ver as grandes lendas finlandesas do passado e era demasiado pequeno para ter qualquer memória do que Emil Zatopek fizera nos Jogos Olímpicos de Helsínquia, em 1952.
Aliás, apesar de ter a Finlândia no sangue, foi nos Estados Unidos que descobriu a paixão pela corrida e desenvolveu o seu talento. Depois, já de regresso ao país-natal, o polícia de profissão evoluiu cada vez mais até chegar a Munique-1972… a correr por fora, sem grandes expectativas.
O que se sucedeu foi o início da história: fez a dobradinha dos 5000 e 10000 metros e entrou para uma lista exclusiva que contava apenas com Hannes Kolehmainen (1912), Emik Zatopek (1952) e Vladimir Kuts (1956). Depois, em 1976, no Canadá, procurou repetir a gracinha e entrar para uma elite exclusiva… de uma pessoa só.
O primeiro desafio chegou nos 10 000 metros. O seu grande rival, Brendan Foster, não conseguiu acompanhar o ritmo imposto por Carlos Lopes e ficou para trás a dois mil metros do fim. Depois, Lasse Viren atacou a pouco mais de uma volta para o final e empurrou o português para a medalha de prata.
A dupla dobradinha chegou a estar em risco, devido a uma novela provocada pela forma como mostrou os ténis para o público (estratégia de marketing ou provocada pelas bolhas nos pés?), mas viu a presença garantida a um par de horas do início. Depois, foi só fazer o mais fácil, batendo Dick Quaz da Nova Zelândia e Klaus-Peter Hildenbrand da República Federal da Alemanha.
Lasse Viren já estava na história – isolado – mas ainda tentou igualar um recorde que Emil Zatopek tinha estabelecido em Helsínquia. Menos de um dia depois da final dos 5000 metros – na qual Aniceto Simões foi oitavo a cinco segundos de Viren -, o finlandês correu a maratona. Aí, o desgaste falou mais alto e o atleta não foi além da quinta posição, com duas horas, 13 minutos e 10 segundos. O título foi para o alemão de leste, Waldemar Cierpinski, com 2:09:55.
O nome de Lasse Viren continua a ser incontornável na história do atletismo mas deixou de estar sozinho depois de Mo Farah ter conseguido a dupla dobradinha em Londres-2012 e Rio de Janeiro-2016.