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É Desporto

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07 de Abril, 2020

Lance Larson. Quando fazer o melhor tempo não foi suficiente

Especial Jogos Olímpicos (Roma-1960)

Rui Pedro Silva

Lance Larson

Decisão dos 100 metros livres nos Jogos Olímpicos de Roma foi uma das mais controversas na história e catapultou definitivamente a natação para o progresso técnico. Norte-americano Lance Larson terminou com o melhor tempo, com base nos cronómetros de três juízes, mas a burocracia atirou-o para a medalha de prata, oferecendo o título ao australiano John Devitt.

Lance Larson entrou na final dos 100 metros livres como o maior favorito à conquista do título. Depois dos 55,7 segundos da sétima série das eliminatórias e dos 55,5 segundos da meia-final, o norte-americano tinha os dois tempos mais rápidos entre os oito finalistas. Aliás, apenas John Devitt tinha conseguido baixar também do segundo 56, ao nadar a meia-final em 55,8.

Não havia dúvidas sobre quem seriam os dois candidatos ao título e o facto de nadarem lado a lado tornou a corrida mais frenética. O brasileiro Manuel dos Santos Filho, que acabaria por vencer a medalha de bronze, liderava aos 50 metros mas perdeu a vantagem na segunda metade da prova.

Aí, Larsson e Devitt foram até à última. Os tempos eram outros. Em cada pista, havia três árbitros com cronómetros para tentar chegar a um consenso no tempo de prova. Para Devitt, não houve dúvidas: os três registaram uma marca de 55,2 segundos, que equivalia a um novo recorde olímpico. Com Larson, porém, houve um pequeno desvio: um juiz encerrou a prova aos 55,0 enquanto os dois restantes mostraram 55,1 segundos.

Haver duas marcas idênticas seria suficiente para oficializar uma marca mas naquele dia, em Roma, os responsáveis decidiram aumentar a confusão. Não acreditando na marca dos cronómetros, decidiram recorrer aos juízes que também marcavam presença na piscina: 24 no total, 12 de cada lado.

A pergunta foi feita a três juízes: quem é que terminou em primeiro? Dois responderam Devitt, um Larson. Por outro lado, quando perguntado a outros três juízes quem ficou em segundo, as respostas foram exatamente as mesmas: dois disseram Devitt, um Larson.

O desempate foi feito pelo alemão Henry Runströmer, responsável máximo pela equipa de juízes. O natural seria aceitar os tempos registados mas Runströmer tinha outra ideia: os dois atletas iam ficar com um tempo de 55,2 segundos mas a medalha de ouro iria apenas para Devitt.

Os norte-americanos contestaram a decisão mas não tiveram sorte. Lance Larson ficou para sempre recordado como o homem que venceu a medalha de prata apesar de registar o melhor tempo e deu início à mudança tecnológica na natação. Oito anos depois, na Cidade do México, os juízes foram substituídos por sensores de toque, erradicando de vez o erro humano da equação.

Para Larson foi demasiado tarde, restando apenas a moderada recompensa de ter sido campeão olímpico na estafeta dos 4x100 metros. O currículo de John Devitt foi mais rico: terminou a carreira olímpica com quatro medalhas: duas de ouro, uma de prata e uma de bronze, divididas entre Melbourne-1956 e Roma-1960.