Jugoslávia-União Soviética. Quando Tito e Estaline entraram em campo
Especial Jogos Olímpicos (Helsínquia-1952)
Jogo da segunda ronda do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos em 1952, em Helsínquia, foi muito mais do que uma simples partida. Numa eliminatória espetacular, com 14 golos a contar com o desempate dois dias depois, ninguém ignorou a tensão política que existia entre os dois países.
Não foi a primeira vez, não seria também a última. A história dos Jogos Olímpicos tem-nos ensinado que, edição após edição, há sempre episódios a transbordar de tensão política, onde os conflitos se conseguem imiscuir no espírito olímpico idealizado por Pierre de Coubertin.
Da ausência de convites aos países agressores na Grande Guerra à Alemanha de Hitler, passando pelos conflitos entre as duas Chinas, a primeira metade da história olímpica da era moderna foi rica em situações de tensão. Mas nenhuma, até então, foi levada tão a sério como o jogo de futebol entre a Jugoslávia e a União Soviética, na segunda ronda da prova.
Numa perspetiva redutora, pode dizer-se que foi uma zanga de amigos. Tito e a Jugoslávia eram aliados do bloco oriental, liderado pela União Soviética de Estaline. A falta de apoio dos soviéticos e a tendência para a rebeldia dos jugoslavos ajudaram a subir o ponto de fricção até uma situação irreversível.
A Jugoslávia tornou-se um parente indesejado do bloco oriental, com a União Soviética a incentivar os vizinhos a pôr de lado qualquer ligação mais próxima com o governo de Tito e a prepararem a sua força militar para o caso de uma possível guerra.
Em 1952, os antigos aliados estavam de costas voltadas já há quatro anos e qualquer pequena situação era encarada como fulcral para a afirmação política. O duelo reservado para a segunda ronda do torneio masculino de futebol olímpico tornou-se um assunto de estado e os dois líderes fizeram questão de enviar telegramas para a Finlândia a acentuar a importância de um triunfo.
Em Tampere, no sul do país, cerca de 17 mil pessoas assistiram a um jogo verdadeiramente espetacular. A Jugoslávia pareceu ser bastante melhor e, com uma hora de jogo disputada, goleava por 5-1. Mas os soviéticos sabiam os riscos de uma derrota e marcaram aos 75, 77, 87 e 89 minutos até garantir o empate e forçar um prolongamento sem golos.
Foi preciso marcar uma desforra para dois dias depois. No mesmo estádio, com o mesmo árbitro – o britânico Artur Ellis – e praticamente a mesma lotação. Desta feita, a União Soviética fez questão de entrar melhor, com um golo de Bobrov aos seis minutos, mas não conseguiu manter a vantagem. Ao intervalo os jugoslavos já venciam por 2-1 e seguiram em frente após uma vitória por 3-1. No final, saíram de Helsínquia com a medalha de prata – perdendo apenas para a Hungria de Puskas – e provocaram uma pequena crise na estrutura soviética.
O CSKA Moscovo, que compunha a espinha dorsal da seleção, foi severamente castigado, e o selecionador, o mítico Boris Arkadiev, perdeu a distinção de Mestre do Desporto da União Soviética.