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É Desporto

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07 de Junho, 2018

Josip Simunic. Não há dois sem três… amarelos no mesmo jogo

Rui Pedro Silva

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Defesa croata não conseguiu chegar ao fim do jogo com a Austrália, na fase de grupos, mas não foi por falta de tentativas de Graham Poll. O árbitro inglês mostrou o segundo cartão amarelo ao jogador aos 90 minutos mas, para surpresa de todos, não o expulsou. Três minutos depois, novo amarelo e, aí sim, o vermelho. A culpa? O croata tinha sotaque australiano.

 

Um insólito que nem inventado

 

Esta é a história de um jogo da fase de grupos do Mundial-2006. Um jogo em que a vantagem estava do lado da Austrália, com três pontos, enquanto a Croácia, com um, estava obrigada a vencer para seguir em frente.

 

O jogo foi caótico. A Croácia era favorita na teoria e começou a mostrá-lo desde cedo, quando Darijo Srna inaugurou o marcador, logo aos dois minutos. A Austrália respondeu de penálti, por Craig Moore aos 38’, mas o início do segundo tempo voltou a ter um golo madrugador (Niko Kobac, 56’).

 

A matemática era simples. A Croácia tinha de manter a vantagem se quisesse seguir em frente e já esperava uma natural pressão do lado australiano. Foi logo numa fase inicial que Simunic viu o cartão amarelo pela primeira vez, aos 61 minutos.

 

Guus Hiddink, o selecionador australiano, arriscou tudo o que tinha para arriscar, com as entradas de John Aloisi (63’), Mark Bresciano (71’) e Joshua Kennedy (75’) e a recompensa chegou aos 79 minutos, através de um golo de Harry Kewell.

 

O tabuleiro estava invertido e o ónus da obrigação de marcar um golo recaía agora nos croatas. A equipa entrou em desespero e a frustração não ajudou. Numa altura em que eram poucos a acreditar, Simunic cometeu nova falta para cartão. Poll não hesitou e mostrou-lhe o segundo amarelo.

 

O problema? Como Simunic tem passado australiano e falava com sotaque, o inglês assinalou a advertência como se tivesse sido ao outro número três em campo: o australiano Craig Moore. Nos intervalos da chuva, perante a incredulidade dos jogadores e do próprio Simunic, o faltoso continuou em campo e manteve a Croácia a jogar com onze.

 

Mas o que tinha de ser teve mesmo muita força e, no terceiro minuto dos descontos, Simunic voltou a ver amarelo e, agora sim, à terceira, é expulso por Graham Poll.

 

Impacto imediato

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Os grandes golos e as grandes jogadas alimentam o futebol mas um lance insólito consegue globalizar-se ao mesmo ritmo. De repente, já toda a gente sabia que Simunic teve de ver três cartões amarelos para ser finalmente expulso.

 

Toda a gente especulou a razão. Os lances não mostravam dúvidas e as próprias reações dos jogadores provavam que algo de muito errado estava a acontecer. Como seria possível um árbitro – e toda uma equipa de arbitragem – terem deixado passar esse momento?

 

O erro foi uma vergonha e Graham Poll foi, sem grande surpresa, deixado de lado assim que começaram os jogos da fase a eliminar. É preciso ter em conta que Poll não era um qualquer árbitro, mas sim alguém com muita experiência em Inglaterra e mesmo a nível europeu.

 

Já tinha estado no Mundial-2002, era o único inglês em 2006 e já ia no terceiro jogo, depois do Coreia do Sul-Togo e do Arábia Saudita-Ucrânia. Mas ia mais longe: tinha sido ele a arbitrar a final da Taça UEFA em Alvalade no ano anterior, entre o Sporting e o CSKA Moscovo. Pelo caminho, em 2000, também já tinha marcado presença na final da Taça de Inglaterra em 2000, entre Chelsea e Aston Villa.

 

Agora, de repente, era motivo de chacota nos quatro cantos do mundo. «É um árbitro excecional e tem muito fair-play. Vai ser capaz de ultrapassar esta situação graças à sua personalidade forte e ao amor pelo jogo», disse o presidente do Comité de Arbitragem da FIFA, Ángel Maria Villar.

 

O espanhol não tinha razão e Poll decidiu anunciar o fim da carreira internacional em fases finais no dia seguinte a ter ficado de fora do lote dos árbitros do Mundial. «O que fiz foi um erro. Não pode haver discussão. Não foi por causa de uma diretiva da FIFA, não foi por me terem pedido para arbitrar de forma diferente do que faço em Inglaterra. As leis do jogo são muito específicas. O árbitro tem de assumir a responsabilidade pelas suas ações em campo. Eu era o árbitro naquele dia. Foi o meu erro e o gozo acaba comigo.»

 

O resto da carreira continuou, até 2007, mas sem a mesma determinação. «É tempo de outras pessoas em Inglaterra terem uma oportunidade e farei tudo para os ajudar. Mas, para mim, acabou», disse.