Jon Lillis. A homenagem mais comovente de PyeongChang
Eram três irmãos e tinham o sonho de poder competir nos Jogos Olímpicos juntos. Em outubro de 2017, tudo mudou por causa de uma tragédia. Em PyeongChang, Jon não foi além da oitava posição no esqui estilo livre (aéreos) mas cumpriu o desejo: manter viva a ambição de Michael.
Uma noite como as outras
Sexta-feira, 20 de outubro de 2017. Michael Lillis está na sala a ver televisão com a avó, depois de um jantar com a família. Os New York Yankees estão na final da Liga Americana de basebol e falta-lhes apenas um triunfo para eliminar os Houston Astros e seguir para garantir o regresso à World Series.
Michael é um grande adepto dos Yankees mas não tem essa felicidade. Os Astros vencem 7-1, igualam a eliminatória a três jogos, e adiam todas as decisões para o dia seguinte. Conformado, Michael despede-se da família, diz-lhes boa noite e vai dormir.
O jovem de 17 anos adormeceu e nunca mais acordou. No dia a seguir, a mãe encontrou-o morto quando entrou no quarto para o acordar. Não houve explicação. Morreu durante o sono mas hoje, quatro meses depois, a família continua sem ter uma razão lógica para o que aconteceu.
Os irmãos Jonathan e Christopher estavam longe, a competir na Suíça, quando Michael morreu. Os três eram atletas de esqui estilo livre (aéreos) e partilhavam um sonho: competir juntos nos Jogos Olímpicos. O trio Lillis estava bem lançado: Jon, de 23 anos, já tinha vencido uma etapa da Taça do Mundo em 2017, e Chris, 19, tinha sido o mais jovem campeão mundial dois anos antes.
Michael nunca chegou a atingir um patamar tão alto mas, diz quem o conhecia, estava a queimar etapas na evolução natural. E esta semana, de certa forma, marcou mesmo presença em PyeongChang-2018, fruto da homenagem do irmão mais velho.
Nem a morte os separou
Jonathan Lillis ficou em choque quando soube da morte do irmão (o mais jovem na imagem) e pôs o futuro em causa. Seria capaz de conseguir a competir, num mundo que era fantasiado pelo trio inseparável desde sempre?
Sim, claro. Depois de um evento promocional em Nova Iorque, poucos dias depois do funeral, Jonathan entendeu o que estava realmente em causa: «Percebi que voltar a esta vida era o mais próximo dele que poderia estar. Tentei voltar aos treinos o mais depressa possível».
O caminho era claro: os Jogos Olímpicos de PyeongChang estavam no horizonte. O irmão Christopher ia falhar a competição – lesionou-se no final de dezembro – mas a família ia estar representada por Jonathan. E o norte-americano sabia perfeitamente como ia assinalar o momento.
Desde logo, transportou ao pescoço um colar com cinzas do irmão durante a cerimónia de abertura. Depois, na prova, competiu com o fato que era utilizado por Michael. «O sonho que tínhamos era podermos estar nos Jogos Olímpicos juntos. Pareceu-me a melhor forma de lhe dar essa experiência», contou no final.
A mãe, Jamie, não escondeu o orgulho, apesar do oitavo lugar na competição. «Como pais, não podíamos estar mais orgulhosos do nosso atleta olímpico. O Jon teve um desempenho fantástico num desporto onde não há segundas oportunidades. Deu tudo por tudo. Durante os Jogos não há vencedores nem derrotados, competes contra os melhores do mundo. Só chegar aqui já é fantástico», escreveu no Facebook.
A ambição agora passa por chegar a Pequim em 2022. E aí, Jonathan insiste que vai estar acompanhado por Christopher: «Ele consegue estar ao nível dos outros. Daqui a quatro anos a história será completamente diferente».
A família pode ter menos um irmão mas continua inseparável, especialmente em competição: «Somos muito próximos. É como se tivéssemos duas oportunidades para fazer as coisas bem, porque quando um faz algo bem, o outro também o vive intensamente por dentro».