Jim Shea. A tragédia impediu um ciclo perfeito
Jack, Jim pai e Jim filho. Num espaço de 70 anos, os três elementos da família Shea foram aos Jogos de Inverno e conquistaram um total de três títulos. Infelizmente, o avô morreu menos de um mês antes de poder ver o neto receber uma medalha de ouro.
Lake Placid-1932
Os Estados Unidos receberam a terceira edição dos Jogos Olímpicos de Inverno, depois de Chamonix em 1924 e St. Moritz em 1928. A comitiva norte-americana marcou presença em peso com 64 atletas, mais do que duplicando o número dos anos anteriores (24).
Era uma era diferente. Não havia tantas modalidades e cada modalidade não tinha tantas provas diferentes. Mas nem por isso Jack Shea deixou de ser posto à prova. Num total de 14 títulos olímpicos atribuídos, os Estados Unidos venceram seis e dois foram para o atleta que tinha nascido em… Lake Placid.
Estava a patinar em casa, literalmente, e até foi escolhido para ler o juramento dos atletas na cerimónia de abertura. Quando chegou a altura de entrar em pista, Jack não vacilou. Tinha apenas 21 anos mas levou a melhor sobre o norueguês Bernt Evensen nos 500 metros e sobre o canadiano Alexander Hurd nos 1500 metros.
Jack Shea fez história e foi preciso esperar por 1980, novamente em Lake Placid, para assistir a nova dobradinha de um norte-americano: Eric Heiden, o supersónico atleta que também subiu ao lugar mais alto do pódio nas provas de 1000, 5000 e 10000 metros.
A defesa dos títulos em 1936, em Garmish-Partenkirchen, no núcleo da Alemanha Nazi, nunca esteve em equação, depois de Jack ter aceitado o pedido de um rabi nova-iorquino para não viajar. Um mês antes dos Jogos, porém, Jack venceu toda a concorrência sem qualquer dificuldade.
Innsbruck-1964
Jim Shea, o filho mais velho de Jack, nasceu em 1938, seis anos depois de o pai ter feito história em Lake Placid. A paixão pelos desportos de inverno estava-lhe no sangue e não conseguiu escapar, garantindo uma presença nos Jogos Olímpicos de Innsbruck, na Áustria, aos 25 anos.
O norte-americano teve a honra de ser o porta-estandarte dos Estados Unidos, mas os resultados não foram os melhores. No combinado nórdico, Jim foi um de dois atletas desqualificados e na prova de 30 quilómetros de cross country não foi além do 48.º lugar, a mais de doze minutos do campeão olímpico.
Salt Lake City-2002
A terceira presença da família Shea em Jogos Olímpicos de Inverno começou com tristeza profunda. A 22 de janeiro de 2002, menos de um mês antes da cerimónia de abertura, Jack Shea morreu aos 91 anos na sequência de um acidente de automóvel provocado por um condutor embriagado.
Jim Shea, o neto, manteve a tradição dos desportos de Inverno mas foi por outro caminho: o skeleton. E tinha jeito, assumindo-se como um dos principais candidatos ao triunfo na prova organizada nos Estados Unidos.
Campeão do mundo em 1999, somava ainda uma medalha de prata em 1997, precisamente em Lake Placid, a terra da família, e uma medalha de bronze em 2000.
Como não podia deixar de ser, o desempenho em Salt Lake City ficou marcado pela emoção e pelo simbolismo. Nas bancadas, os adeptos não esqueceram Jack e exibiram cartazes com a inscrição de que o espírito do avô de Jim continuava vivo. Depois de ter sido o mais rápido na primeira manga, o título olímpico tornou-se cada vez mais próximo.
Com uma águia no capacete, o pai na bancada e o avô na memória, Jim parecia estar sempre a um «bocadinho assim» do título olímpico, passando a um centésimo do tempo mais rápido nos três primeiros pontos intermédios. Mas, na hora da verdade, teve o empurrão que lhe faltava para cruzar a linha de meta com cinco centésimos de vantagem sobre o austríaco Martin Rettl.
Debaixo da neve intensa que marcou a prova, Jim levantou-se, mostrou a fotografia do avô para a câmara, ergueu os braços e gritou bem alto, eufórico com o triunfo que lhe tinha permitido ser o segundo campeão olímpico da família.
«Acho que o meu avô ainda tinha uns assuntos por tratar aqui em baixo. Agora sim, já pode ir para o céu», disse.
RPS