Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

É Desporto

É Desporto

08 de Setembro, 2016

Jason Smyth. Não competir com os melhores por pouco

Rui Pedro Silva

Jason Smyth é o Bolt dos Paralímpicos

Doença genética faz com que só tenha 10% de visão. Participou nos Europeus de Atletismo em 2010 e nos Mundiais em 2011 mas continua a falhar o grande sonho: estar nos Jogos Olímpicos. O «Bolt dos Paralímpicos» não dá hipótese e vai tentar a terceira dobradinha consecutiva (100 e 200 metros).

 

Não saber o que é ser diferente

 

A doença de Stargardt pode aparecer logo nos primeiros anos de vida ou numa fase mais avançada. No caso do avô de Jason Smyth, a doença genética que causa perda de visão progressiva só surgiu aos 60 anos. Com ele, foi muito mais cedo, a partir dos nove anos.

 

O norte-irlandês é incapaz de enumerar em que é que é diferente e quais são as principais dificuldades: «É uma questão muito difícil de responder porque, para mim, normal é estar assim. É o que é. Não sei o que é ter uma visão a 100%, não dá para comparar.»

 

É claro, no entanto, que há situações em que Smyth sente as limitações. Quando sente que vai ser abordado na rua tende a ignorar e por vezes ouve comentários que preferia não ouvir. Mas a principal dificuldade será sempre a movimentação. Sem poder conduzir, também não gosta de andar por espaços que não domina nem conhece.

 

Caso muda de figura a correr

Como Smyth preserva 10% de visão, compete em T13. Aí, não dá hipótese à concorrência e ganhou a alcunha de «Bolt dos Paralímpicos» depois de ter dominado por completo as provas dos 100 e 200 metros nos Jogos de Pequim, em 2008.

 

Quatro anos depois, em Londres, repetiu a façanha, apesar de o ano ter sido marcado pela desilusão. Smyth pode ser invencível nos Paralímpicos mas a maior ambição sempre foi poder correr nos Olímpicos.

 

Em 2012, o sonho esteve muito perto e todos os sinais davam a entender que estava pronto para conseguir.

 

O ciclo começou em 2010, com a participação nos Europeus de Barcelona, quando correu ao lado de Christophe Lemaître e foi quarto na meia-final. No ano seguinte, nos Mundiais de Daegu, partilhou a série com Walter Dix e cumpriu a distância com um tempo de 10,57 segundos, a 15 décimos do tempo necessário para chegar à meia-final.

Jason Smyth com Lemaître nos Europeus de Barcelona

O cenário era sempre este: Smyth pode não ser rápido o suficiente para ganhar frente às maiores figuras mas pode competir entre os melhores. Mas para os Jogos Olímpicos de Londres falhou os mínimos por quatro décimos: fez 10,22 segundos quando o tempo necessário era 10,18.

 

Críticas a Pistorius e elogios de Tyson Gay

 

Jason Smyth é o paralímpico mais rápido da história mas não conseguiu a mesma notoriedade que Oscar Pistorius. Depois dos Jogos de Pequim, o norte-irlandês fez questão de realçar a diferença de tratamentos.

 

«Os Paralímpicos estão demasiado centrados nele e torna-se difícil que os outros atletas também tenham atenção e reconhecimento. Há muitos outros atletas a trabalharem arduamente», lembrou.

 

Em sentido contrário, chegam os elogios de Tyson Gay, o segundo homem mais rápido da história (9,69 segundos) e com quem Smyth treinou nos Estados Unidos.

 

«É muito talentoso e penso sinceramente que a sua técnica de corrida é melhor do que a minha. Às vezes, quando corre, faz-me lembrar o Maurice Greene. Acho que estaria no meu top-5 de técnica», diz o norte-americano.

 

Cura para a doença

 

Jason Smyth está conformado com a doença que tem e não vive excitado com a possibilidade de se encontrar uma cura que consiga reverter os problemas na visão.

 

Recentemente, quando se falaram de uns novos testes que permitiriam avanços, o velocista preferiu ser cauteloso, adaptando o ditado de que mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.

 

«Se funcionar é fantástico mas certamente que não serei dos primeiros a testar. Se for algo garantido, é claro que pensarei em alinhar, mas havendo riscos, mesmo que pequenos, não vou tentar. Odiaria ficar totalmente cego», confessa.

 

RPS