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É Desporto

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30 de Março, 2018

Jackie Robinson. O homem que bateu a segregação para fora do estádio

Rui Pedro Silva

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Foi o primeiro afro-americano a disputar um jogo na Major League Baseball. Contra a vontade de colegas de equipa, treinadores adversários e adeptos, mereceu a confiança do proprietário dos Brooklyn Dodgers e fez história com a camisola 42 a 15 de abril de 1947. Em nove anos de carreira, foi considerado rookie do ano, foi seis vezes All-Star, uma vez MVP da Liga Nacional e campeão em 1955. O basebol nunca mais foi o mesmo. 

 

Influência social

 

Dificilmente haverá uma família no mundo com um peso maior na inclusão social através do desporto e no combate ao racismo do que a família Robinson. Sim, Jackie é o mais famoso e fizeram-se filmes e escreveram-se livros sobre ele, abordando o impacto de ter sido o primeiro afro-americano a jogar na Major League Baseball. Mas o pontapé de saída foi dado por Matthew Robinson em 1936.

 

Contextualização: Jackie Robinson é um de cinco irmãos numa família abandonada pelo pai e onde a mãe teve de fazer o possível para os sustentar como podia. Nascido a 31 de janeiro de 1919, tinha apenas 17 anos quando soube do feito histórico do irmão Mack (como era conhecido Matthew).

 

Mack Robinson foi um dos afro-americanos que integraram a comitiva dos Estados Unidos para os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936. Jesse Owens foi o maior destaque mas o irmão de Jackie destacou-se com uma medalha de prata na prova dos 200 metros, ficando a apenas quatro décimas de Owens.

 

O sucesso desportivo inspirou a família. E Jackie não quis ficar atrás, notabilizando-se na escola secundária no futebol americano, no basquetebol, no atletismo e no basebol.

 

Série de contratempos

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O percurso de Jackie Robinson ficou marcado pelas dificuldades. Estudante na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), teve de deixar o percurso académico a meio por dificuldades financeiras em 1941.

 

O capítulo seguinte passou por ir viver para o Havai, onde jogou futebol americano semi-profissional pelos Honolulu Bears, mas o desenrolar da II Guerra Mundial interrompeu a temporada e forçou Jackie Robinson a prestar serviço no exército norte-americano entre 1942 e 1944.

 

O jogador não chegou a combater na guerra mas nem por isso o percurso deixou de ser acidentado. Ao entrar num autocarro do exército, Jackie recusou sentar-se nos últimos lugares após a ordem do motorista e foi levado a tribunal marcial.

 

A lógica, e a verdade, estavam do lado do jogador. Os autocarros do exército não promoviam a segregação racial e o motorista não tinha qualquer razão em obrigar quem quer que fosse a sentar-se onde quer que fosse. Depois de uma vaga de fundo de apoio a Jackie Robinson, a razão foi-lhe dada e acabou com o cadastro limpo quando deixou as forças armadas.

 

Dedicação ao basebol

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Quando a tempestade acalmou, começou a jogar basebol na Negro League e não demorou muito até captar a atenção do presidente dos Brooklyn Dodgers, Branch Rckey.

 

Casado com Rachel Isum, Jackie Robinson começou a escrever as páginas que mudariam a história do basebol para sempre, batendo o racismo e a segregação racial para fora do estádio. O primeiro capítulo contemplou uma temporada nos Montreal Royals, equipa-satélite dos Dodgers, e desde logo se começaram a sentir as dificuldades antecipadas.

 

Rickey e Robinson tinham um acordo. Acontecesse o que acontecesse, Jackie não podia responder aos insultos raciais. Os dois queriam derrubar obstáculos na Major League Baseball mas saberiam que à mínima reação intempestiva do jogador, os esforços iriam por água abaixo.

 

Não foi fácil. Nunca seria. Por isso mesmo, Rickey foi o primeiro a testar o jogador, preparando-o com muitos dos insultos que pensava que viriam a ser utilizados por adversários e adeptos.

 

Dentro de campo, Jackie Robinson nunca precisou de preparação. Fez uma temporada fantástica nos Royals e foi promovido à equipa principal, estreando-se oficialmente pelos Dodgers a 15 de abril de 1947.

 

Jogador indesejado

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A presença de Jackie Robinson desagradou mais do que agradou. As secções dos estádios para adeptos afro-americanos começaram a esgotar mas o jogador teve de enfrentar o preconceito de todos, inclusive dos colegas de equipa.

 

Chegou a haver uma conspiração para garantir que Jackie era afastado da equipa mas o treinador, Lou Durocher, não deixou que a ideia crescesse e rapidamente avisou todo o plantel: se alguém estivesse mal, que se mudasse. Não seria Jackie Robinson a ser trocado.

 

A decisão até daria muito jeito aos Dodgers, uma vez que o jogador não precisou de muito tempo para demonstrar o que valia, independentemente de passar por experiências selvagens, sobretudo nos jogos fora de casa e sempre que defrontava os Philadephia Phillies.

 

Com o passar do tempo, a resistência perdeu força e as exibições ganharam mediatismo. Em nove anos de carreira, foi rookie do ano (1947), MVP da Liga Nacional (1949), seis vezes All-Star e uma vez campeão (1955).

 

O título não podia ter sido mais saboroso. Os Dodgers derrotaram os New York Yankees, equipa que tinha batido os rivais de Brooklyn nas World Series de 1947, 1949, 1952 e 1953.

 

Pelo meio, Jackie Robinson aproveitou a oportunidade para criticar os Yankees, em 1952, por continuarem a promover a segregação no desporto e não incluírem nenhum afro-americano no plantel. Curiosamente, os Yankees só o viriam a fazer em 1955, no ano do título dos Dodgers, com a integração de Elston Howard.

 

O fim da carreira

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Jackie Robinson foi trocado para os New York Giants em 1956 numa altura em que já tinha decidido terminar a carreira, numa decisão anunciada oficialmente a 5 de janeiro de 1957. A partir daí, foi uma das vozes mais importantes do ativismo social nos Estados Unidos.

 

O seu legado no basebol continuou com o passar dos anos. Em 1962, tornou-se o primeiro afro-americano a ser eleito para o Hall of Fame e em 1972, depois de morrer, os Dodgers retiraram o 42. Anos mais tarde, em 1997, todas as equipas seguiram o seu exemplo, nunca mais atribuindo esse número a um jogador.

 

Mariano Rivera, dos Yankees, foi o último jogador a envergar o 42, exibindo-o desde 1995 até terminar a carreira, em 2013.

 

O dia da estreia de Jackie Robinson, 15 de abril, tornou-se sinónimo do jogador e desde 2004 é sempre motivo de festa. É o dia em que todos os jogadores trocam os seus números pelo 42 de Jackie e jogam em sua homenagem.