Israel Folau. Um cristão que acabou no inferno
Estrela do râguebi australiano justificou mensagem divulgada nas redes sociais contra bêbedos, homossexuais, adúlteros, mentirosos, fornicadores, bandidos, ateus e idólatras como um dever de cristão. Federação não mostrou contemplações perante a quebra do código de conduta e rescindiu contrato avaliado em quatro milhões de dólares.
Israel Folau nasceu a 3 de abril de 1989 na Austrália. Filho de pais do Tonga, começou a mostrar talento para o râguebi desde tenra idade e chegou facilmente a uma posição de destaque entre os Wallabies. Até hoje, fez 62 jogos com um total de 32 ensaios e 160 pontos. A partir de hoje… não fará mais nada.
Em 2018 Folau assinou um contrato de quatro anos avaliado em quatro milhões de dólares com a Rugby Australia – que lhe permitia representar os Wallabies e os New South Wales Waratahs – mas tudo mudou depois de uma publicação no Instagram a 10 de abril de 2019.
Nela, partilhou uma imagem que dizia que o inferno estava à espera de um conjunto de pessoas: bêbedos, homossexuais, adúlteros, mentirosos, fornicadores, bandidos, ateus e idólatras. A mensagem desencadeou uma investigação e nesta sexta-feira, curiosamente no Dia Internacional de Luta contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, o tribunal decidiu que o contrato entre o jogador e a Rugby Australia devia ser denunciado.
Israel Folau mantém a sua posição de inocente e recusou-se a apagar a publicação durante este processo. «Como australianos, nascemos com alguns direitos, incluindo o direito à liberdade de religião e o direito à liberdade de expressão. A fé cristã sempre fez parte da minha vida e acredito que espalhar a mensagem de Deus é um dever meu como cristão. Manter a minha crença religiosa não me deve impedir de trabalhar ou jogar pelo meu clube ou pelo meu país», reagiu.
Em comunicado, a Rugby Australia, através da CEO Raelene Castle, refere que «esta é uma decisão que vai mudar o panorama do desporto na Austrália e, possivelmente, em todo o mundo». «Queríamos garantir que demorávamos o tempo necessário para tomar a decisão certa», acrescentou.
O argumento de Folau é rebatido por Castle: «No râguebi não há espaço para alguém que põe as suas visões e posições à frente das dos outros. A nossa mensagem clara para todos os adeptos é a de que temos de defender os nossos valores e qualidades como inclusão, paixão, integridade, disciplina, respeito e trabalho de equipa».
Raelene Castle acrescentou que «as pessoas têm de se sentir seguras, independentemente do seu género, raça, passado, religão ou sexualidade» e relembrou que não foi a Rugby Australia que escolheu estar nesta posição. «Foi Israel, através das suas ações, que não deixou outro caminho a seguir que não este», continuou.
Israel Folau perdeu a possibilidade de continuar a jogar na Austrália – tanto na seleção como por clubes – mas mantém em aberto a opção de jogar no estrangeiro. Contudo, a posição pública indicia que Folau encara todo este processo como «uma interferência de Satã» e que o regresso ao râguebi na Austrália será alcançado através da «vontade de Deus».
Para já, o jogador diz-se «profundamente triste» com a decisão e garante estar a «considerar as opções». Além do desfecho com a Rugby Australia, Folau perdeu também o contrato como embaixador da Asics. A marca considerou a ligação com o jogador «insustentável».