Inglaterra. A única equipa a derrotar um futuro campeão
Estados Unidos (duas vezes), Noruega e Alemanha (também duas vezes) conquistaram as cinco primeiras edições de Mundiais de futebol feminino sem sofrer uma única derrota. Foi preciso esperar até 2011, na Alemanha, para que uma equipa já vencida pudesse chegar à final e vencer o tão ansiado troféu. Aconteceu como Japão… e a culpada foi a Inglaterra.
A expressão «campeão sem derrotas» tem um significado muito mais forte do que merece na realidade. E isso acontece porque o nosso cérebro está formatado para pensar automaticamente num campeonato com 30 ou mais jornadas, onde os deslizes acontecem e uma derrota, apesar de tudo, não significa o fim da linha.
Quando chegamos a fases finais, a expressão perde significado. Desde logo porque ser campeão sem derrotas acaba por ser o mais natural. A partir da fase a eliminar, a derrota é, literalmente, uma obrigação de saída da competição. E, na fase de grupos, os maiores candidatos raramente tremem.
Em sete edições do Mundial de futebol feminino, contando já com 2015, houve apenas uma seleção a erguer o troféu depois de perder um jogo na fase de grupos: o Japão. E se decidirmos alargar o espetro ao futebol masculino, verificamos que desde 1930, em 21 edições, houve apenas quatro casos: a RFA perdeu com a Hungria em 1954 (3-8) e com a RDA em 1974 (0-1), a Argentina perdeu com a Itália em 1978 (0-1), e a Espanha perdeu com a Suíça em 2010 (0-1).
A Inglaterra é a culpada na sombra de este feito inédito no futebol feminino na edição ganha pelo Japão. As duas equipas defrontaram-se a 5 de julho, em Augsburgo, perante mais de vinte mil pessoas, na última jornada da fase de grupos. O Japão já estava apurado, com seis pontos, mas as inglesas podiam ser eliminadas através de uma improvável – mas possível – combinação de resultados.
Sem a pressão do apuramento, o selecionador japonês Norio Sasaki não rodou a equipa e entrou em campo exatamente com o mesmo onze que tinha goleado o México (4-0) quatro dias antes e derrotado a Nova Zelândia por 2-1 na estreia. Se houve pé fora do acelerador, não foi pela equipa que entrou em campo.
Na verdade, o jogo teria mais a decidir do que o apuramento. O grupo B do Mundial cruzava com o A, onde estava a anfitriã e bicampeã mundial em título Alemanha. O problema? Havia um França-Alemanha a ser disputado apenas depois do Inglaterra-Japão.
Mais do que escapar à Alemanha, as inglesas queriam mostrar o que valiam em campo e provaram-no com um triunfo por 2-0. Ellen White inaugurou o marcador aos 15 minutos e Rachel Yankey, entrada ao intervalo, fixou o resultado aos 66 minutos.
O triunfo da Inglaterra não foi um choque. Nem podia ser visto como tal. O historial do Japão na prova era pobre: tinha cinco participações mas só em 1995 passara da fase de grupos, perdendo logo no embate dos quartos-de-final. Agora, o simples apuramento já era visto como uma melhoria.
Quando, cerca de cinco horas mais tarde, a Alemanha derrotou a França por 4-2, o destino das quatro seleções ficou traçado. Contra todas as expectativas, o Japão derrotou a Alemanha após prolongamento (1-0, Maruyama) e protagonizou um choque inesperado. A Inglaterra esteve perto das meias-finais mas desperdiçou a vantagem de 1-0 aos 88 minutos e foi forçada a decidir a sorte nos penáltis.
Aí, a Inglaterra limitou-se a ser… Inglaterra. O início foi promissor: Abily falhou o primeiro penálti francês e as três primeiras inglesas não vacilaram. Mas, depois, com dois remates desperdiçados consecutivos e um resto de folha imaculada para as francesas, a história no Mundial-2011 ficou por ali.
Mais tarde, o Japão conquistou o título, batendo os Estados Unidos nos penáltis. A derrota com a Inglaterra na fase de grupos não foi mais do que uma nota de rodapé numa campanha memorável para um país inteiro.