Indians vs. Blue Jays. A final afetada por um drone
Trevor Bauer é um dos lançadores iniciais que restam nos Indians mas um acidente enquanto fazia a manutenção ao drone que construiu deixou tudo em risco. No jogo três da final da American League não conseguiu fazer mais do que 21 lançamentos, saindo a sangrar abundantemente.
De percalço em percalço até à vitória final?
Os Cleveland Indians não vencem a World Series desde 1948. Entre todas as equipas que já venceram pelo menos uma vez o campeonato de basebol norte-americano, só mesmo os Chicago Cubs têm um jejum mais longo, desde 1908.
Não é que a equipa do Ohio não tenha tentado. No final do século passado, perdeu as finais de 1995 e 1997 e em 2007, na última final da American League em que esteve, desperdiçou uma vantagem de 3-1 frente aos futuros campeões Boston Red Sox.
Esta época trouxe uma ambição reforçada. Com Terry Francona no comando, o técnico que os bateu em 2007 e que quebrou o jejum de Boston em 2004, os Indians venceram a divisão Central e aumentaram a expetativa entre os adeptos, especialmente depois do título dos Cavaliers na NBA em junho. A cidade tinha quebrado a maldição e estava pronta para voltar a ganhar.
Mas as lesões pareciam ter arrasado as possibilidades. Com Carlos Carrasco e Danny Salazar de fora, a rotação dos lançadores iniciais dos Indians ficou sem margem de erro. Havia Corey Kluber, Trevor Bauer, Josh Tomlin e… mais ninguém.
A série com os Red Sox correu bem, com três vitórias em três jogos e o trio a corresponder. O pior, pelo menos parecia, surgiu na final da American League frente aos Toronto Blue Jays. Trevor Bauer estava indicado para começar o segundo jogo mas trocou as voltas a Francona devido a um problema inesperado.
Drone maldito
Terry Francona confessou que estava no banho quando o telefone tocou. «Podiam-me ter dado inúmeros palpites que nunca teria adivinhado o que era», disse em conferência de imprensa. Bauer tinha cortado o dedo mindinho da mão direita – a que lança – enquanto fazia «manutenção de rotina» ao drone que havia construído.
«Acho que foi isso que o Bauer disse, ‘manutenção de rotina’. Não faço ideia o que isso é. Felizmente o corte foi só em cima. Pronto, aconteceu. Tivemos dias de descanso suficientes pelo que temos margem para trocar a ordem e pôr o Josh Tomlin a lançar primeiro», explicou, tão sorridente como estupefacto.
Tomlin ajudou os Indians a vencer os Blue Jays e no domingo, um dia antes do seu jogo, Trevor Bauer deu mais explicações sobre o que tinha acontecido, numa conferência de imprensa em que também esteve o seu drone laranja.
«Liguei-o como faço sempre, milhares e milhares de vezes. E por qualquer razão estava na mesa assim, enquanto ligava a bateria. Calhou o meu dedo estar ali e, por qualquer razão que não entendo, estas três hélices não rodaram como era suposto e esta rodou a máxima velocidade», disse.
«Sou um grande nerd. E gosto de Star Wars. Muito», continuou, como se ainda fosse preciso explicar mais.
Hora da verdade
Com um dia de recuperação extra, Trevor Bauer começou o jogo pelos Indians na noite de segunda para terça-feira em Toronto.
Francona contava que o lançador pudesse cumprir pelo menos cinco innings para permitir a gestão habitual de lançadores, já bastante espremida, mas o jogador de 25 anos só durou 21 lançamentos, eliminando dois adversários e permitindo que outros dois chegassem às bases.
O dedo, que tinha sido cosido com dez pontos, não estava capaz e começou a sangrar. Esta não foi a primeira vez que Terry Francona teve de lidar com um lançador a sangrar durante um jogo da final da American League. Na tal histórica época de 2004, Curt Schilling tinha sido operado recentemente ao tornozelo e sangrou bastante, dando origem ao episódio da meia ensanguentada. Na altura, contra os Yankees, resistiu. Neste caso, a lesão estava a afetar Bauer.
Mas não afetou os Indians, que venceram 4-2 e ficaram a apenas uma vitória de chegar à World Series. No final, o lançador estava agradecido: «O que é que se pode dizer? Inacreditável, não é? Não há limite para o que se pode dizer do trabalho que a bullpen (onde estão os lançadores que entram durante o jogo) fez. Distinção de co-MVP para todos eles».
A insistência em ter jogado também foi mencionada. «Sou competitivo. Queria estar lá dentro. Não teria ido se não quisesse. Era a minha vez de lançar e estava à espera de aguentar muito tempo, como faço sempre».
Ao ver o sangue, o treinador dos Blue Jays, John Gibbons fez o sinal ao árbitro principal, Brian Gorman. Terry Francona revela que o rival quase pediu desculpa pelo que fez: «Não era o que queria fazer mas estava mesmo [a sangrar muito]…»
Francona compreende-o. «Bolas, era apenas uma questão de tempo até toda a gente ver. Estava a sangrar bastante. Quando fui ter com ele nem queria acreditar no quanto estava a sangrar. Não consigo acreditar que ele conseguiu escondê-lo durante dois lançamentos.»
Cody Allen, o lançador que termina os jogos pelos Indians, também teve uma observação curiosa: «Tenho a certeza que se lhe dessem a escolher entre cortar o dedo ou sair do jogo, ele tê-lo-ia cortado na hora».
RPS