Indiana Hoosiers. A perfeição sob o lema da disciplina máxima
São a última equipa a alcançar o título sem derrotas durante uma época de basquetebol universitário nos Estados Unidos, em 1976. Muitos tentaram depois disso mas ninguém teve estofo para os imitar, muito por culpa da liderança intensa de um homem: Bob Knight.
Diz-me quem te inspira, dir-te-ei como liderarás
George Smith Patton foi general dos Estados Unidos durante a II Guerra Mundial e desempenhou um papel essencial no avanço das tropas aliadas na Europa após o desembarque na Normandia. Woody Hayes era um treinador de futebol americano universitário que foi cinco vezes campeão nacional.
Os dois exerceram uma influência excecional na forma como Bob Knight assumiu a sua liderança nos Indiana Hoosiers. Não era preciso libertar o mundo das atrocidades dos nazis nem avançar jarda a jarda no desporto mais físico dos Estados Unidos, mas o técnico nascido em 1940 tinha uma ideia muito específica sobre o que era preciso fazer na dinâmica de um plantel.
Bob Knight treinava os seus jogadores como se estes estivessem no exército. Não havia pausa para respirar, para beber água, para pensar na vida que havia fora do pavilhão. Ali, durante o tempo do treino – sempre maior do que o das outras equipas – Bob Knight ditava as regras e ai dos jogadores que não acatassem e desempenhassem as tarefas com o máximo desempenho.
Em 1975/76, o treinador podia ter apenas 35 anos mas já liderava os seus jogadores como se de um velho experiente se tratasse. Os treinos eram tão árduos que Bobby Wilkerson, um dos jogadores que compunha o cinco inicial, chegou mesmo a dizer que «os jogos pareciam férias».
O lema do estilo de jogo de Bobby Knight, fosse nos treinos ou durante os jogos, era sempre o mesmo: «Se estás parado, estás errado». Disciplinador, não permitia que um único centímetro do seu plano ficasse desalinhado e não teve problemas em penalizar outros dois titulares, Scott May e Quinn Bucker, quando estes decidiram deixar de viver no dormitório da universidade e arrendaram um apartamento.
O técnico entendia que os dois iam ter uma alimentação deficiente e garantiu o regresso da dupla de estrelas em poucos dias. «Às vezes, o treinador ligava-me antes do treino a dizer que ia reclamar comigo só para mandar uma mensagem aos outros. E era precisamente isso que ele fazia», recordou Scott May.
Mensagem dada logo no arranque da temporada
A sede de vencer e a desilusão da derrota em 1975 foram os ingredientes fundamentais para que os Hoosiers partissem para uma temporada perfeita. Bob Knight estava no quinto ano como técnico e quatro dos titulares mantinham-se do ano anterior: Scott May, Quinn Buckner, Bobby Wilkerson e Kent Benson. A única novidade era Tom Abernethy.
A lesão de May na temporada anterior tinha ajudado a que os Hoosiers fossem eliminados na final regional pelos Kentucky Wildcats e acicatou a determinação da equipa. Anos mais tarde, em conversa com os antigos jogadores, Bob Knight recordou um momento definidor desse início de temporada: «No dia antes de começarmos a treinar, juntei-vos todos e disse-vos que só havia algo que interessava realmente, e que esse devia ser o vosso único objetivo: terminar a época sem derrotas. Lembram-se disso?».
Os primeiros jogos dos Hoosiers não deram margem de dúvida. Ainda na pré-época, derrotaram a União Soviética, campeã mundial em título, por 96-78 e na estreia na fase regular derrotaram os UCLA Bruins, campeões universitários, por 84-64.
No fim-de-semana seguinte, o treinador dos Florida State Seminoles, Hugh Durham era um homem amedrontado: «Venceram a Rússia para provar que eram os melhores do mundo. E venceram UCLA para provar que eram os melhores nos Estados Unidos. Agora, gostava que conseguíssemos provar que são humanos e que podem ter um jogo mau».
Estiveram longe, muito longe disso. Ao intervalo os Hoosiers já venciam por mais de vinte pontos (47-20) e no final ganharam por 83-59. Aí, Durham já estava aliviado: «Ainda bem que isto não é como no basebol, que nos obriga a fazer três jogos seguidos com a mesma equipa».
O sofrimento no intervalo decisivo
Vitória após vitória, com maior ou menor dificuldade, os Hoosiers chegaram à final do campeonato. Tinham deixado 31 jogos para trás e iam defrontar os Michigan Wolverines pela terceira vez na temporada. Nas duas anteriores, haviam vencido 80-74 e 72-67.
Bob Knight tinha receio dos perigos de defrontar uma equipa três vezes na mesma temporada e o resultado ao intervalo (29-35) deu-lhe razão. Estava na altura de fazer algo que já tinha na cabeça há dois anos. Esperou que os jogadores estivessem instalados no balneário, entrou e deu-lhes um recado: «Se querem ser campeões e fazer história, têm vinte minutos para mostrarem o que valem». E foi-se embora.
A história aconteceu mesmo. A segunda parte foi demolidora, os Hoosiers venceram 86-68 e tornaram-se a sétima equipa na história a alcançar o título sem qualquer derrota, juntando-se a San Francisco-1956 (29-0), North Carolina-1957 (32-0), UCLA-1964 (30-0), UCLA-1967 (30-0), UCLA-1972 (30-0) e UCLA-1973 (30-0).
Scott May foi considerado o melhor jogador do país e acabou como segunda escolha no draft desse ano (Chicago Bulls). Quinn Buckner (Milwaukee Bucks-7), Bob Wilkerson (Seattle Supersonics-11) e Tom Abernethy (LA Lakers-43) também seguiram para a liga profissional, enquanto Kent Benson acabou por ser a primeira escolha do draft, mas em 1977 (Milwaukee Bucks).
Um feito cada vez mais histórico
Os Indiana Hoosiers continuam a ser a última equipa a conquistar o título sem qualquer derrota. Durante os últimos anos, algumas equipas chegaram ao torneio final com a oportunidade mas acabam sempre por vacilar. Os Kentucky Wildcats de Devin Booker e Karl-Anthony Towns foram os últimos, em 2015.
«Resistimos ao teste do tempo. O treinador Knight disse-nos na altura que nenhum de nós sabia o que significava aquele feito. Disse-nos para olharmos para a nossa equipa, que nunca mais haveria uma igual. Vou lembrar-me disso até ao dia em que morrer, e sinto-me aqui humilde por esse pensamento», disse Quinn Buckner no 40.º aniversário do feito.
Bob Knight sempre soube o que tinha acabado de acontecer: «Não me interessa o que os outros fazem. Esta equipa será sempre lembrada pelo que conseguiu. Outras podem terminar sem derrotas mas não vão conseguir alcançar o que esta equipa conseguiu. Não me importo se outros rapazes tiverem as mesmas aspirações e alcançarem o mesmo objetivo. Nada vai retirar valor ao que fizemos».
Hoje, tantos anos depois, Scott May continua a viver intensamente sempre que alguma equipa parece ameaçar esse estatuto, confessa o filho (também Scott). «Sempre que uma equipa que está imbatível perde, recebo um telefonema do meu pai. “Outros tentaram… e falharam”, diz-me.»