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É Desporto

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12 de Maio, 2019

Ifeanyi Chiejine. A mais nova de sempre num Mundial

Rui Pedro Silva

Ifeanyi Chiejine é a primeira em baixo do lado direito

O futebol feminino, na sua essência, sempre foi propenso a utilizar jogadoras muito novas. Desde as equipas das fábricas durante a Grande Guerra até às primeiras décadas da disseminação do futebol por toda a Europa, a partir dos anos 70, não é raro encontrar jogadoras com 14 anos acabados de fazer a dar os primeiros passos e a assumirem-se como futuras referências.

 

Em 1999, por outro lado, o futebol feminino era cada vez mais uma realidade. Havia cada vez mais jogadoras profissionais, os modelos de competição eram cada vez mais sérios e o desporto deixou de ser visto como algo que as adolescentes podiam fazer até encontrar a sua razão de viver, como casar e ter filhos.

 

Quando os Estados Unidos organizaram o Mundial em 1999, as médias de idades eram cada vez mais… adultas. Mas havia seleções aqui e ali que iam escapando à tendência e apresentavam jogadoras muito novas. Longe dos 13 e 14 anos das suas antepassadas mas, ainda assim, com idade para jogar nos escalões jovens.

 

Como acontece no futebol masculino, também no futebol feminino as equipas africanas surgiam em lugar destaque na apresentação de jogadoras mais jovens do que o habitual. Aqui, contudo, não era uma questão de suspeição. Para todos os efeitos, a competição era de futebol sénior e interessava pouco confirmar a cédula de nascimento.

 

A Nigéria surgiu com Ifeanyi Chiejine (em baixo à direita na imagem no topo) no plantel e ajudou a fazer história nas fases finais, com um recorde que se mantém até hoje. Quando a seleção africana começou os trabalhos de preparação para o Mundial, Ifeanyi ainda nem sequer 16 anos tinha, mas a estreia na competição, contra a Coreia do Norte, a 20 de junho, aconteceu aos 16 anos e 34 dias.

 

A jogadora, atacante, foi titular e jogou os primeiros 70 minutos, num momento em que a Nigéria vencia por 1-0 – no final ficou 2-1. A estreia não podia ter sido mais simbólica: foi no Rose Bowl, em Pasadena (arredores de Los Angeles), e com mais de 17 mil pessoas nas bancadas.

 

Chiejine manteve-se no onze para a goleada sofrida diante dos Estados Unidos (1-7), sendo substituída logo aos 43 minutos, e para a vitória épica diante da Dinamarca (2-0), jogando 81 minutos. O triunfo sobre a rival europeia garantiu o apuramento inédito para a fase a eliminar, continuando a ser até hoje a única vez em que a Nigéria superou a fase de grupos.

 

Na despedida da seleção, nos quartos-de-final, num jogo emocionante que só foi decidido com um golo de ouro (4-3 para o Brasil), a história foi semelhante. Chiejine foi titular mas na altura das substituições foi logo escolhida para sair, jogando apenas 26 minutos, período durante o qual o Brasil marcou dois golos.

 

Nascida a 17 de maio de 1983, atualmente com 35 anos, Chiejine manteve-se entre as eleitas da Nigéria e jogou também as fases finais de 2003 e 2007, além dos Jogos Olímpicos de Sydney-2000 e Pequim-2008.

 

Michael Owen como referência

Ifeanyi Chiejine contra a Coreia do Norte... em 2003

 

Chiejine estreou-se numa fase final um ano depois de Michael Owen ter conquistado o mundo com a sua velocidade no França-1998. Para a nigeriana, o avançado do Liverpool era a grande referência. Com cinco irmãs e três irmãos, Chiejine encontrou no futebol o seu passatempo preferido e começou a jogar com dez anos, conquistando quem quer que a visse em ação.

 

As suas características impressionavam. Rápida, ágil, com técnica suficiente e capacidade para desequilibrar na finalização. Famosa no futebol nigeriano, foi sem surpresa que chegou à seleção, mesmo numa idade tão jovem.

 

«Ela tem velocidade, consegue driblar e é muito tenaz com a bola. Não é algo que se possa dar como garantido», disse o selecionador Sam Okpodu antes da fase final de 2003. Por esta altura, o futebol já não era a sua única preocupação, uma vez que tinha acabado de se formar em Ciência Computorizada e Tecnologia.

 

Mas, claro, o espaço reservado no seu coração ao desporto era garantido, até porque a Nigéria estava na vanguarda do continente: «O futebol feminino veio para ficar. Temos sorte comparadas com outros países africanos. Acredito que temos um nível de jogadoras e treinadores mais alto, um campeonato melhor e uma crença real de que o futuro do futebol é feminino».