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É Desporto

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27 de Agosto, 2021

Ibrahim Hamadtou. Jogar ténis de mesa com a boca

Rui Pedro Silva

Ibrahim Hamadtou

Não foi a maior revelação desportiva dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Perdeu na estreia com o sul-coreano Hong-Kyu Park e, dois dias depois, com o chinês Chao Chen. O egípcio disse ciao com duas derrotas em dois jogos mas cativou muita gente. Sobretudo quem não o conhecia do Rio de Janeiro e quem nunca tinha visto a sua forma de jogar.

O ténis de mesa é um desporto rápido. Ágil. Às vezes até violento pela forma como a raquete embate na bola para provocar trajetórias ora supersónicas ora ziguezagueantes que deixem os adversários sem reação.

Pode ser praticado só com a mão dominante, embora a segunda ajude bastante, seja para antecipar o serviço ou para servir de equilíbrio. Para Ibrahim Hamadtou não há nem mão dominante nem mão de apoio.

Hamadtou perdeu os dois braços quando tinha dez anos, num acidente de comboio. A partir daí, era difícil encontrar um desporto que o acolhesse da mesma forma, sobretudo numa aldeia perdida no meio do Egito.

«Na nossa aldeia, naquela altura, só dava para jogar futebol e ténis de mesa. Por isso é que eu jogava as duas. Era lógico que praticasse futebol mas fui para o ténis de mesa por causa de um desafio. Estava no clube a arbitrar um jogo entre dois amigos quando houve uma discórdia num dos pontos. Quando eu decidi a favor de um, o outro disse-me que eu não devia interferir porque nunca seria capaz de jogar. Foi isso que me fez ir para o ténis de mesa», garantiu.

Sem braços, Hamadtou joga ténis de mesa com a boca. Utiliza um dos pés para levantar a bola e preparar o serviço e faz tudo o resto com a raquete na boca. «Comecei por tentar usá-la presa na minha axila e também tentei outras coisas, mas não resultaram muito bem. Finalmente, tentei usar a minha boca. Levei quase um ano de prática até conseguir o efeito desejado. Com o treino e a regularidade dos jogos, comecei a melhorar», garantiu.

A melhoria de Hamadtou pode não ter sido suficiente para ultrapassar a fase de grupos em Tóquio mas talvez esteja apto para desafiar o seu ídolo: o português Cristiano Ronaldo. O agora jogador do Manchester United também tem um historial de não gostar de perder no ténis de mesa nem a feijões, por isso talvez fosse um jogo interessante.