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É Desporto

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27 de Agosto, 2021

Ibrahim al Hussein. Perder a perna para salvar um amigo

Rui Pedro Silva

Ibrahim al Hussein

Síria, 2012. Um amigo de Ibrahim al Hussein está no meio da estrada a gritar por ajuda. Acabou de ser atingido e já vê a morte a chegar. Não se consegue mexer e precisa de alguém que o arraste dali para um lugar seguro.

Naquele momento, Ibrahim al Hussein, 24 anos, tem duas hipóteses: ajudar o amigo e pôr em risco a própria vida ou zelar pela sua segurança. A escolha, para ele, foi óbvia: «Decidi que tinha de ajudar porque nunca seria capaz de me perdoar o facto de o ver morrer no meio da estrada».

A decisão foi simples mas a consequência chegou mesmo, uns segundos depois. «Estávamos a andar perto de um cruzamento quando houve uma explosão mesmo à nossa frente. Todos perdemos alguma coisa. Eu fiquei sem a minha perna direita, tive de meter alguns parafusos na perna esquerda, feri o nariz e a órbita esquerda. Um dos meus amigos perdeu uma perna, outro a mão direita. Toda a gente ficou ferida naquele momento», recorda com tristeza.

«Depois do acidente houve uma fase em que fiquei muito triste mas depois apercebi-me de que não poderia continuar daquela forma. Disse-me que não poderia parar de fazer o que estava a fazer antes do acidente. Estava um pouco deprimido por perder a minha perna mas o meu amigo que sobreviveu agora tem três filhos. Ele está feliz e eu posso viver por causa disso», acrescentou.

Viver na Síria não deixou de ser um perigo para El Hussein e a decisão de abandonar o país onde vivia com 13 irmãos chegou apenas dois anos depois. Passou pela Turquia antes de receber asilo na Grécia. «No início foi difícil porque não falava a língua e não tinha ninguém, mas entretanto encontrei um médico que me ajudou. É como um irmão. A prótese da perna que normalmente custaria 12 mil euros… foi feita por ele. E ofereceu-me. Agora estou feliz na Grécia. Adoro o país e as suas pessoas».

O desporto corria nas veias de Ibrahim muito antes do acidente. O pai tinha sido treinador de judo e de natação e a estreia nas águas começou no rio Eufrates com apenas cinco anos. Mais a sério, e depois do acidente, foi apenas em 2016. «Via a natação como uma forma de sair da minha depressão. Quando estou a treinar, deixo de pensar que tenho uma deficiência e parece que está tudo igual ao que era antes».

«É difícil ir da natação para a natação adaptada mas aconteça o que acontecer na vida tens de continuar a fazer as coisas que te dão prazer», disse.