Henry Taylor. Da pobreza extrema aos três títulos olímpicos
Especial Jogos Olímpicos (Londres-1908)
Fazia da água o seu habitat natural e não desperdiçava uma única oportunidade para nadar, por mais imunda e pouco saudável que fosse a água. Quando teve a oportunidade de representar o seu país nos Jogos Olímpicos de Londres, o inglês fez história com três títulos. A marca demorou 100 anos a ser igualada.
Os pais morreram quando era muito jovem e teve de ser criado pelo irmão mais velho. Longe de uma vida abastada, encontrou na natureza os maiores prazeres da vida. Dizia quem o conheceu nesse período que não perdia uma oportunidade para se enfiar dentro de água e nadar. As piscinas eram um luxo ao qual só conseguia aceder nos dias de desconto, por isso conhecia na palma da mão todos os rios, canais e lagos. E nadava. Nadava sem parar.
Quando começou a crescer – não muito porque nunca foi além dos 165 centímetros -, as competições de natação tornaram-se uma atividade de eleição. Deu nas vistas, claro, e tornou-se um dos melhores nadadores do Reino Unido. Em 1906, nos Jogos Olímpicos Intercalares de Atenas, tinha 21 anos e demonstrou que podia ser uma ameaça séria em Roma-1908.
Os caprichos da natureza tiraram a organização dos Jogos a Roma. Os italianos ficaram mais preocupados com os investimentos necessários para recuperar após uma erupção no Vesúvio e desviaram a verba prevista. Foi assim que Londres entrou na corrida e garantiu a realização do evento.
Henry Taylor foi, naturalmente, um dos nomes mais acarinhados do público. E com razão para isso. A técnica do inglês era imparável e o domínio nas provas dos 400, 1500 e 4x200, sempre na variante de estilo livre, foi praticamente absoluto. Entre eliminatórias, meias-finais e final, só não chegou ao fim da distância em primeiro uma vez.
Aconteceu precisamente na prova do primeiro título, nos 400 metros. Na primeira meia-final do evento, Taylor foi superado em apenas quatro décimas pelo austríaco Otto Scheff. Mas quando verdadeiramente importava demonstrou que não havia sequer discussão: venceu a final e garantiu a medalha de ouro com mais de sete segundos de vantagem sobre Frank Beaurepaire e praticamente dez sobre Scheff.
A estafeta dos 4x200 metros ajudou a catapultar Taylor para a glória eterna. Quando saiu para a água, no último turno, estava em grande desvantagem para o húngaro Zoltan Halmay e para o norte-americano Leslie Rich. Mas, combinando a sua enorme capacidade com o desgaste dos adversários, garantiu a reviravolta e terminou com mais de três segundos de vantagem sobre a equipa húngara.
Para fechar com a chave de ouro, a prova dos 1500 metros foi um verdadeiro passeio. Depois de bater o recorde olímpico na eliminatória e na meia-final, Henry Taylor foi supersónico na final e estabeleceu um novo máximo mundial com 22 minutos, 48 segundos e quatro décimos. Para se ter uma noção do impacto desta marca, basta perceber que outro britânico, Paul Radmilovic, tinha estabelecido um novo recorde olímpico na primeira série das eliminatórias com dois segundos acima dos… 25 minutos.
Henry Taylor tornou-se o primeiro britânico da história a alcançar três títulos olímpicos e teve de esperar até 2008 para ser igualado, por Chris How (ciclismo de pista). O futuro adivinhava-se promissor mas a realidade foi um pouco diferente. Em Estocolmo-1912 não foi além de uma medalha de bronze na estafeta dos 4x200 metros livres e depois… houve a guerra. Taylor serviu… na marinha e viu os Jogos de 1916 serem cancelados. Findo o conflito, despediu-se da carreira olímpica em 1920, em Antuérpia, com nova medalha de bronze na estafeta dos 4x200 metros livres.
A vida não lhe sorriu depois disso e acabou por morrer com 65 anos, novamente numa situação de extrema pobreza. Henry Taylor sempre se deu bem na água mas nunca conseguiu nadar em dinheiro.