Harold Osborn. Quando o decatlo não é suficiente
Especial Jogos Olímpicos (Paris-1924)
Com uma deficiência visual grave, poucos seriam aqueles que lhe augurariam um grande futuro. Mas Harold Osborn, um norte-americano de uma família de agricultores, não se deixou intimidar pelos problemas e fez história nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1924. Foi o primeiro – e único até ao momento – a vencer o decatlo… e uma prova individual ao mesmo tempo (salto em altura).
Cresceu numa quinta e, como qualquer criança, passava horas a brincar com os irmãos no meio da natureza. Saltava e corria como se a vida dependesse disso e, na hora de começar a praticar desporto, a propensão para um ecletismo singular não surpreendeu ninguém.
O acidente que lhe tinha retirado uma enorme percentagem de visão num dos olhos poderia ter sido um enorme obstáculo – deixou de conseguir calcular profundidade com precisão – mas Osborn tornou-se um especialista na abordagem a cada evento, a cada prova. Desenvolveu métodos alternativos e apoiou-se neles para fazer diferença e potenciar o seu talento atlético.
Quando chegou aos Jogos Olímpicos de Paris, em 1924, ninguém duvidava da sua capacidade. E nem a visão era discutida como uma desvantagem. Osborn, então com 25 anos, estava mais do que adaptado depois do acidente sofrido durante a adolescência e queria fazer história.
Paris tornou-se uma cidade talismã. Se o decatlo é, desde sempre, conhecido como a prova que coroa o atleta mais completo do mundo, conseguir juntar outro título a essa especialidade é inaudito. Ou era, até Harold Osborn provar que era possível.
No salto em altura, com um estilo que desenvolvera logo desde a infância, saltou 1,98 metros e estabeleceu um novo recorde olímpico, mas ficou aquém do máximo mundial que lhe pertencia (2,03 metros). No decatlo, o triunfo foi esmagador.
Ganhou as provas dos 100 metros, 110 metros barreiras e salto em altura, ficou em segundo no salto em comprimento e no salto com vara, sétimo no lançamento do disco, oitavo no lançamento do peso, no lançamento do dardo e nos 400 metros, e nono nos 1500 metros.
As contas finais não deram margem para dúvidas: venceu com 7710 pontos e o segundo classificado, o também norte-americano Emerson Norton, não foi além dos 7350.