Goethals. O nome de treinador que saiu da boca de Jesus
Jorge Jesus enumerava as ameaças ofensivas do Dortmund quando, a seguir a Dembele e Aubameyang, disse Goethals. Referia-se a Götze, claro, mas acabou por fazer referência inconsciente a um treinador que deixou marca na história e com o qual, curiosamente, tem algumas parecenças.
Raymond Goethals. O Jesus belga?
Nasceu na Bélgica em 1921 mas foi em França, em 1993, que entrou para a história do futebol europeu, ao comandar o Marselha ao primeiro e único título de uma equipa francesa na Taça dos Campeões Europeus/Liga dos Campeões.
A curta descrição de Goethals numa peça do SoFoot em 2013 ajuda a perceber o início de ligação que pode ter com Jorge Jesus: «Deixou uma marca indelével na história do futebol francês. Alguém que falava francês de forma única, com um sotaque belga inimitável e com métodos da velha escola». Nem tudo se compara, obviamente.
Mas não se fica por aqui. Nessa equipa do Marselha em 1993, estava Didier Deschamps. «Tinha uma maneira de gerir o grupo… jamais conseguiria fazê-lo atualmente. Era simples: a equipa tinha os titulares. A seguir, ele conhecia o 12.º, o 13,º o 14.º e a partir daí era tudo corrido a ‘coiso’», começa por dizer Deschamps para depois estabelecer o pormenor que ajuda a fazer o grande traço de ligação com Jorge Jesus: «Ele massacrava o nome dos adversários quando eram um pouco mais difíceis de pronunciar.»
Goethals era assim mesmo, meio brincalhão. Deschamps garante que tinha um sentido de humor especial e que era por isso que o fazia, para animar o balneário.
Melhor treinador do que guarda-redes
Guarda-redes de posição, não deixou saudades. Foi quando passou para o banco, a partir de 1957 que começou a construir uma carreira coroada com a Liga dos Campeões em 1993 e que só terminou no Anderlecht em 1995. Pelo meio, entre outros, passou pela seleção belga, pelo Bordéus, pelo São Paulo e… pelo V. Guimarães, em 1984/1985.
Ter-se-á cruzado com Jorge Jesus? Nessa temporada, o atual treinador do Sporting tinha 30 anos e alinhava no Estrela da Amadora, na segunda divisão. O Vitória estava no primeiro escalão e as duas equipas não se defrontaram na Taça de Portugal. O belga cumpriu a época completa mas os vimaranenses não foram além do nono lugar. Em nove dos 30 jogos, o guarda-redes escolhido por Goethals foi… (António) Jesus.
O ponto mais alto foi o título com o Marselha mas houve mais momentos especiais. Na década de 70, com o Anderlecht, conquistou a Taça das Taças em 1978 e a Supertaça Europeia em 1976 e 1978. Antes, como selecionador belga, havia levado a equipa ao terceiro lugar no Euro-1972.
Em 1982, com o Standard Liège, perdeu a final da Taça das Taças frente ao Barcelona. Foi a segunda final europeia perdida, depois de ter caído no jogo decisivo da mesma competição com o Anderlecht em 1977, contra o Hamburgo.
A força do destino
Raymond Goethals sempre sentiu que estava destinado a ser treinador. «É algo que não se aprende. Não podem fazer de ti um treinador. Consigo dizer-te em cinco minutos se alguém tem um talento natural para ser treinador ou não», dizia.
Em 1993, na final com o Milan, Goethals deu também uma lição sobre a importância que tem estudar bem o adversário: «Sabia exatamente como é que eles jogavam. Observei-os sete vezes.»
Raymond Goethals morreu a 6 de dezembro de 2004, vítima de cancro do cólon. Tinha 83 anos.
RPS