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É Desporto

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05 de Agosto, 2016

Glória individual vs. glória coletiva

Rui Pedro Silva

Derek Redmond lesionou-se em Barcelona-1992 e terminou prova em lágrimas abraçado ao pai

As medalhas valem todas o mesmo mas será ilegítimo dar mais importância aos grandes feitos individuais, relegando os títulos coletivos para segundo plano? A glória individual tem um sabor que a coletiva não consegue dar, até para quem vê de fora.  

 

3, 2, 1...

O dia chegou. Depois de quatro anos de espera, os Jogos Olímpicos arrancam oficialmente esta noite no Rio de Janeiro. Sim, já houve uma jornada inteira de futebol e as provas de tiro com arco começaram antes da cerimónia, mas não há momento como o desta noite.

 

Não é pelo espetáculo, pelo fogo-de-artifício ou pelas danças. É pelo espírito. É por ser o momento em que cada atleta entra no estádio e sente que está ali, no palco da glória, prestes a concretizar ou a repetir um sonho. Muitos deles não vão sequer competir no Estádio Olímpico mas isso não interessa.

 

É o simbolismo do momento. Quando se ouve o nome do país dos altifalantes e se desfila, ao lado de atletas de todos os cantos do mundo, de quem nunca se ouviu falar. É o instante em que os anos de esforço e de dedicação atingem uma pitada de recompensa.

 

A recompensa é individual. São sonhos individuais que se concretizam. É claro que há sempre muita gente por trás, mas no final, para as contas, é o nome do atleta que importa.

 

É este individualismo que me faz relegar para segundo plano as modalidades coletivas nos Jogos Olímpicos. Ao longo dos últimos 120 anos, houve fases em que o evento teve momentos épicos em disciplinas como futebol, basquetebol, voleibol ou, se quisermos mudar a agulha para os Jogos de Inverno, hóquei no gelo.

 

Mas quando me pedem, a mim e a praticamente toda a gente, para fazer uma lista com os melhores momentos dos Jogos Olímpicos, as respostas são quase sempre figuras individuais. É Zatopek e Nurmi, é Spitz e Phelps, é Bolt, Comaneci, Latynina e Korbut. É Derek Redmond e Jesse Owens, é Kerri Strug…

 

O meu problema é o critério não ser linear. Um dos melhores momentos de Phelps foi numa prova de estafetas, o salto estoico em sofrimento de Strug foi na prova por equipas. É difícil traçar exatamente a linha que separa a glória individual da coletiva mas tenho a certeza que futebol, basquetebol, andebol, voleibol e hóquei em campo não estão do lado certo.

 

Posso ser eu que sou esquisito, mas a minha tradução de Citius, Altius e Fortius será sempre mais rápido, mais alto e mais forte. Nunca mais rápidos, mais altos e mais fortes.