George Weah. Um Bola de Ouro que quer ser presidente
Melhor jogador do mundo em 1995, candidatou-se pela primeira vez à presidência da Libéria em 2005. Perdeu, mas não desistiu. Em 2014, depois de concluir os estudos, foi eleito para o senado e agora está de novo na luta às presidenciais de 10 de outubro.
Descoberto em África por Wenger
George Weah nasceu a 1 de outubro de 1966 numa das zonas mais pobres da Libéria e o futuro não lhe adivinhava facilidades. «Nem sempre foi fácil para mim. Quando era novo, vendia doughnuts, pipocas e pensos rápidos só para que a minha família tivesse dinheiro para a escola», explicou uma vez.
O pai tinha morrido quando ainda era novo e George cresceu com a avó materna. A família era muito modesta e só tinha dinheiro para comer frango uma vez por ano, no dia de Natal. Um dia, deixou a escola. As qualidades futebolísticas começavam a dar nas vistas mas continuava a precisar de arranjar outras formas de levar dinheiro para casa. Por isso, encontrou um trabalho enquanto telefonista na empresa nacional de telecomunicações.
Aos 20 anos, saiu da Libéria. Depois de uma passagem curta pela Costa do Marfim, estava a jogar no Tonnerre Yaoundé (Camarões) quando foi descoberto por Arsène Wenger, na altura o treinador do Monaco.
A ligação entre os dois foi imediato e o avançado fez questão de o chamar ao palco em 1995 depois de receber o prémio de melhor jogador do ano para a FIFA, batendo a concorrência de Maldini, Klinsmann, Romário e Roberto Baggio. No mesmo ano venceu também a Bola de Ouro, tornando-se o primeiro – e único até agora - africano a fazê-lo.
«Foi uma verdadeira surpresa. Nunca tinha visto um jogador explodir da forma como ele o fez», disse Wenger, falando do jogador que depois passou ainda por PSG, Milan, Chelsea, Manchester City e Marselha, antes de terminar a carreira no Al-Jazira, em 2003.
Muito Weah para tão pouca Libéria
É difícil encontrar outro jogador tão bom numa seleção tão fraca. De facto, todo o desporto na Libéria é limitado. Nos Jogos Olímpicos, não só nunca venceram uma medalha como nunca conseguiram ter mais do que oito atletas numa edição.
No futebol, o pouco sucesso alcançado está umbilicalmente ligado a Weah. Para se perceber a dimensão, esta é uma seleção que nunca esteve acima do 66.º lugar do ranking FIFA. Só esteve duas vezes na Taça Africana das Nações, em 1996 e 2002. Mesmo com Weah, não passou da primeira fase. E nunca esteve num Mundial.
Em 2001, o sonho esteve muito próximo. Num grupo com Nigéria, Gana, Sudão e Serra Leoa, a Libéria manteve as aspirações intactas até ao último dia. A 14 de julho, na Serra Leoa, Weah marcou o único golo do jogo que deixou a seleção no primeiro lugar do grupo, com 15 pontos.
As decisões tinham sido adiadas para 29 de julho. Durante duas semanas, os liberianos não dormiram com a possibilidade de garantir o apuramento para o Mundial da Coreia do Sul e do Japão. O cenário, apesar de não ser fácil, estava longe de ser impossível. Bastava a Nigéria não conseguir derrotar o Gana, já fora das contas, em casa.
Não estava mesmo destinado e nem houve espaço para sofrer. As Super Águias marcaram logo no primeiro minuto e antes do intervalo já venciam por 3-0. A melhor oportunidade na história liberiana tinha caído por terra.
E, com ela, o sonho de Weah, que não só era o líder em campo como muitas vezes pagava do próprio bolso para que a equipa se pudesse deslocar para os jogos da qualificação. Com 22 golos em 60 internacionalizações, nunca conseguiu provar algo mais.
«Tenho orgulho em ser liberiano. Adoro o país e as pessoas. Claro que teria gostado de jogar um Mundial mas alcancei tanto na minha carreira como futebolista que não tenho queixas. A única coisa que desilude é que tantos jogadores liberianos não tenham tido a oportunidade de jogar um Mundial nem ter o sucesso pessoal que consegui», disse, em entrevista à FIFA, em 2005.
Tudo rodava em torno da gestão de expetativas. Weah nunca tinha tido o sonho de ganhar o que quer que seja, queria apenas ser jogador profissional. «Foi o meu amor pelo jogo. É claro que os prémios foram especiais. Foram o reconhecimento do meu esforço. E fiquei especialmente orgulhoso por entender que foi importante para o meu país. Eles celebraram comigo e fizeram com que a Libéria aparecesse no mapa», disse.
A faceta política
A consciência social e política de Weah começou a aparecer em 1994 quando criou uma equipa de formação em que o único requisito era que as crianças estudassem. Dez anos depois, tornou-se Embaixador da Boa Vontade da Unicef, mas o primeiro grande passo para a carreira política foi dado no ano seguinte, quando se candidatou à presidência da Libéria, após o final da guerra civil.
O passado de Weah foi posto em causa, devido à falta de estudos e experiência. A resposta não se fez esperar: «Governaram esta nação durante centenas de anos e nunca fizeram nada pelo país, mesmo tendo estudos e experiência.»
«Estou aqui para ajudar os jovens a terem oportunidades. Acredito na educação. É um processo contínuo. Os nossos jovens precisam de ir para a escola e se isso significar que temos de fazer tudo para que o ensino secundário seja gratuito, é o que faremos. Muitas famílias não têm os meios necessários e os empregos são escassos», disse.
O antigo internacional liberiano recorria aos seus conhecimentos para garantir que podia formar cooperações que ajudassem o povo. «Fiz muito por África e penso que posso fazer ainda mais na presidência», garantiu.
George Weah foi o mais votado na primeira volta mas acabou derrotado por Ellen Johnson Sirleaf, formada em Harvard, com 40,6% dos votos.
Desistir não era opção
A derrota não desmotivou o antigo futebolista, que aprendeu com a campanha e fez o que precisava para voltar mais forte. A prova está no artigo de opinião publicado no Huffington Post em 2010, antes do Mundial da África do Sul, falando das 72 milhões de crianças que não vão à escola por todo o mundo.
«Eu sou um dos sortudos. Em 2005, com 38 anos, voltei à escola. Joguei futebol durante 20 anos em alguns dos melhores clubes do mundo mas nunca tive a oportunidade de concluir os estudos. Por isso fui para a Florida e matriculei-me na universidade Devry», escreveu.
Em 2011 voltou a fazer parte da campanha mas apenas como vice-presidente do candidato Winston Tubman. Perdeu. Três anos depois, em 2014, concorreu ao senado e tornou-se o primeiro desportista eleito na Libéria, derrotando o filho da presidente com 78% dos votos no condado de Montserrado, que tem 33% dos quatro milhões de liberianos.
Weah garantia que, no futebol ou política, o mais importante era dedicar-se, «com compromisso e perseverança». «Era essa a minha abordagem no campo e é a minha abordagem agora na política. Estou determinado em ajudar o meu povo e o meu país, tanto como estava a ajudar a minha equipa quando era jogador.»
Recandidatura presidencial
As próximas eleições disputam-se a 10 de outubro de 2017 e George Weah anunciou que é candidato a 28 de abril de 2016.
«Como muitos de vocês, fui uma vítima da pobreza. Estamos aqui hoje reunidos pelo futuro do nosso país e do nosso povo. Nos últimos dez anos, as pessoas continuaram a viver na pobreza, a educação está uma confusão, o sistema de saúde um desastre e a eletricidade e a água canalizada são uma ilusão», afirmou.
George Weah está a ganhar força e há partidos políticas a debater a fusão com a candidatura mas logo após o anúncio em abril, Hawa Wesseh, jornalista, escreveu uma opinião a arrasar a sua competência, acusando-o de ser um dos piores senadores em termos de participação plenária.
«Como não tem ideias, e não é o político bem-intencionado que os liberianos esperam ver no século XXI, está a fazer de parvo nas altas instâncias do país. Como se isso não fosse suficiente, ainda diz que quer ser o presidente», disse, lamentando ainda que não tenha feito nada para corrigir a crise que o hospital mais importante de Monróvia, no condado de Montserrado, viveu.