George Foreman. Ser campeão mundial 20 anos depois
A 5 de novembro de 1994, um pugilista de 45 anos chocou os críticos e conseguiu recuperar o título mundial que havia perdido para Ali em 1974 no Rumble in the Jungle.
Nunca é tarde para ser campeão
*publicado originalmente na edição de 5 de novembro de 2014 do jornal i
George Foreman era um nome que metia medo na década de 70. Pugilista ávido por vitórias, não olhava a sentimentalismos na altura de atingir repetidamente os adversários até conseguir o knockout que lhe daria mais um triunfo.
De 23 de junho de 1969 a 30 de outubro de 1974, somou 40 vitórias em 40 combates, 37 deles por KO. A superioridade era enorme e antes de sofrer a primeira derrota, para Muhammad Ali, no Rumble in the Jungle, levava oito triunfos consecutivos por KO nos dois primeiros assaltos.
«Não estava à procura de fazer amigos. Era jovem e só queria fama e fortuna. Não achava que o boxe me pudesse oferecer outra coisa», afirmou em declarações ao «Telegraph Sport». Mas, mais do que isso, estava em jogo a postura pouco humana dentro do ringue.
Foreman não se importava com os danos que poderia causar aos adversários e deixava escapar, em círculo restrito, que gostaria se no futuro um adversário morresse durante um combate. Foreman não era o único com isso em mente: entre adversários, elementos da comitiva de Ali em 1974, jornalistas e especialistas em boxe, crescia o receio de que um dia isso pudesse mesmo acontecer.
Nunca aconteceu. A derrota contra Ali em 1974, quando tinha 25 anos, foi uma lição de humildade para Foreman e começou a reconstruir a personalidade de um homem que é actualmente um pastor religioso. Três anos depois, em 1977, a derrota contra Jimmy Young fez com que abandonasse a carreira durante dez anos. Em 1987, quando regressou, já tinha 38 anos e poucos achavam que poderia ter uma palavra a dizer no boxe de então.
O que é certo é que somou 24 triunfos consecutivos até 19 de Abril de 1991, data em que disputou o título de pesos pesados com Evander Holyfield, na altura com 29 anos. Foreman perdeu no final por decisão do júri mas passou a mensagem de que não estava tão acabado como muitos julgavam.
Foi preciso esperar mais três anos para que George Foreman demonstrasse que a idade era irrelevante. Afinal, no Rumble in the Jungle, todos tinham apontado os 32 anos de Muhammad Ali como um dos principais problemas no combate e as previsões tinham saído furadas. A 5 de novembro de 1994, há precisamente 22 anos, a idade voltou a ser um mero pormenor com Foreman, de 45 anos, a demonstrar que nunca é tarde para ser campeão mundial.
George Foreman aproveitou a boa vontade de Michael Moorer, então campeão unificado depois de somar a 35.ª vitória na carreira (em 35 combates), contra Evander Holyfield em abril desse ano. Por Foreman não estar no ranking da WBA, o combate não deveria ter sido realizado, mas o veterano tinha o apoio do rival, ganhou a luta no tribunal e garantiu que o duelo previamente marcado para 10 de agosto se disputasse mesmo.
O passado de Foreman espelhava um pugilista habituado a fazer a diferença por KO nos assaltos iniciais mas contra Moorer surgiu ligeiramente mudado. O knockout acabou mesmo por aparecer mas apenas no décimo assalto. Campeão dentro do ringue, acabaria por perder a distinção fora dele por se recusar a combater numa desforra contra o alemão Axel Schulz, em 1995. George Foreman despediu-se finalmente a 22 de Novembro de 1997, com 48 anos, ao perder o último título que lhe restava – Lineal – contra Shannon Briggs.
RPS