Francesca Lollobrigida. Uma sobrinha com queda para o desporto
Gina Lollobrigida marcou uma geração do cinema italiano. Nascida a 4 de julho de 1927, fez carreira no atriz e era vista como uma sex symbol que influenciou e fez sonhar milhares de fãs um pouco por todo o mundo.
A beleza levou-a a um terceiro lugar no concurso para Miss Itália e, já no mundo da representação, começou a ser vista como a mulher mais bela do mundo. Contracenou com atores como Humphrey Bogart e acabou por abrir caminho para muitas outras atrizes italianas com o mesmo tipo de papéis de mulheres sensuais, como Monica Bellucci, por exemplo.
O problema é que Gina já tem 94 anos e muitas das novas gerações não a virem no ecrã nem sequer reconhecem o seu nome em conversa. A sua era parece ultrapassada e o apelido Lollobrigida é hoje novamente alvo de destaque por causa de Francesca, a sua sobrinha-neta, alguém com quem não tem qualquer contacto.
E quem é Francesca? É a nova medalha de prata na prova de 3000 metros na patinagem de velocidade nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim-2022. Na última manga, ao lado da futura campeã Irene Schouten, Francesca fez o possível para lutar pelo título mas não teve argumentos e foi obrigada a conformar-se com a segunda posição.
No dia em que a Itália venceu uma medalha de patinagem de velocidade em pista curta, com a equipa mista a conquistar a prata e a permitir que Arianna Fontana entrasse para a história como a atleta mais medalhada de sempre (nove) na modalidade, Francesca Lollobrigida foi a primeira a dar nas vistas.
A italiana que começou a andar de patins aos 14 meses foi obrigada a procurar qualquer oportunidade para treinar e perseguir o seu sonho, mesmo que isso implicasse correr risco de vida. Pelo menos é o que se pode depreender de alguém que vai de livre vontade para o meio dos condutores italianos.
«Comecei a treinar com patins nas estradas de Roma. Andava atrás dos carros. Tinha de estar sempre muito concentrada a andar a 60 ou 70 quilómetros por hora e com pessoas a buzinar-te a cada instante», contou. Por outro lado, é a própria a reconhecer que hoje já não poderia fazer o mesmo, «tendo em conta as condições das estradas de Roma».
Outra razão para ter deixado de o fazer foi a multa que apanhou por andar a 50 quilómetros de hora numa zona em que o limite de velocidade era de 30 quilómetros por hora. Sim, Francesca cometeu a proeza de ser multada a andar de patins.
O certo é que a coragem e a determinação de Francesca deram resultado. Depois de se ter estreado com um 23.º lugar nos 3000 metros em Sochi, a italiana subiu dez posições em PyeongChang e agora, em 2022, na sua terceira edição, venceu finalmente uma medalha na distância italiana também está inscrita para competir nos 1500 metros, nos 5000 metros e na partida em massa).
Apesar de nunca ter ficado realmente à porta de uma medalha (o melhor que conseguira fora um sétimo lugar na partida em massa em 2018), Francesca Lollobrigida sabia que não se ia contentar em ficar fora do pódio. «Os Jogos Olímpicos deixaram-me com um grande ressentimento, não posso negar. Não me posso contentar com um quarto lugar», assumiu, apontando às medalhas para 2022.
De facto, o quarto lugar pode nunca ter sido uma realidade nos Jogos Olímpicos, mas o caso muda de figura nos Mundiais. Aí terminou à porta do pódio em Heerenveen-2021, em Inzell-2019, em Gangneung-2018 e em Kolomna-2016, sempre na prova de partida em massa.
O segundo lugar nos 3000 metros pode ter deixado Francesca com um novo sabor amargo. Agora, o objetivo já não é uma medalha, é deixar de ser a primeira das últimas. No fundo, não gosta de estar na sombra. O nome Lollobrigida é famoso mas a era da atriz já passou. Agora é Francesca que está a fazer tudo para que a sua vida dê um filme. Não com Oscars mas com medalhas.