Fort Wayne Pistons. Catenaccio à moda do Michigan
Mendenhall teve de ser criativo para conseguir parar George Mikan e os Minneapolis Lakers a 22 de novembro de 1950. A estratégia teve resultado e o jogo entrou para a história como o menos pontuado de sempre (19-18). Foi há 66 anos.
Bus à frente do basket?
*Texto publicado originalmente na edição de 22 de novembro de 2010 do jornal i
O argentino Helenio Herrera é considerado um dos símbolos do catenaccio pelo que fez na década de 60 ao serviço do Inter Milão. Ao longo dos anos, as tácticas defensivas têm evoluído, mas hoje já não é preciso recorrer a termos italianos pomposos. Basta dizer que a equipa pôs o autocarro à frente da baliza.
No basquetebol é impossível fazê-lo com o cesto, mas Murray Mendenhall, treinador dos Fort Wayne Pistons, magicou uma estratégia para derrotar os aparentemente invencíveis Minneapolis Lakers. Foi a 22 de Novembro de 1950, há precisamente 66 anos.
Os Lakers, treinados por John Kundla, tinham um trio fantástico, composto por George Mikan, Vern Mikkelsen e Jim Pollard, e não perdiam no Minneapolis Auditorium há mais de um ano. Mendenhall era um treinador frustrado: «Só há um Mikan. Há três anos que o tento parar, mas não há nada que funcione.»
No entanto, desta vez a estratégia ia ser diferente. Assim que o jogo começou, o poste dos Pistons, Larry Foust, controlou a bola e não saiu do mesmo lugar. Era essa a ordem que tinha: ficar ali, parado, com a bola. Os árbitros gritavam com Mendenhall, que se defendia dizendo que os adversários estavam a fazer defesa à zona ilegal.
Os 7021 espectadores assobiavam; os Pistons chegavam a estar três minutos com a bola nas mãos. A tarefa dividia-se e os passes só eram feitos por um motivo: cansaço. Ao intervalo, a estratégia não estava a surtir os efeitos pretendidos. Os Lakers venciam por 13-11 e George Mikan já tinha 12 pontos. Surpreendentemente, a estratégia manteve-se na segunda parte.
Vern Mikkelsen estranhou: «Porque haveremos de ir atrás deles agora? Desde que estejamos em vantagem nomarcador e eles estejam a empatar tempo, não há interesse em tentar fazer alguma coisa.»
O quarto período, o das grandes decisões, estava a decorrer. À entrada para o último minuto os Minneapolis Lakers venciam por 18-17. O feitiço virava-se contra o feiticeiro e era a vez de a equipa da casa perder tempo. Contudo, a nove segundos do fim, os Pistons forçaram uma perda de bola e Foust fez os dois pontos que deram a vitória por 19-18.
George Mikan insuficiente
Os 15 pontos de Mikan foram insuficientes e o jogo ia entrar para a história como o menos pontuado de sempre. As reações não se fizeram esperar. «Se isto é basquetebol, não quero ter nada a ver com o assunto», criticou John Kundla, treinador dos Lakers. Murray Mendenhall replicou: «Qual é o problema? Ganhámos, não ganhámos? Queríamos uma oportunidade para aproveitar a melhor forma de os vencer.»
Entre os jornalistas, as opiniões dividiam- se entre «uma tragédia do desporto» e «o que interessa não é haver ação, mas sentido competitivo». Já Maurice Podoloff, comissário da liga, criticou o «desrespeito pelos fãs demonstrado pelos jogadores».
Dias depois, em Nova Iorque, realizou-se uma reunião para discutir várias regras. A introdução do tempo-limite de ataque só foi uma realidade em 1954/55, mas escreveu-se que houve um acordo de honra entre as equipas para evitar estratégias do mesmo tipo no futuro. Pelo menos no basquetebol, onde não há autocarros.