Formiga. A mulher que faz jus à alcunha
Chama-se Miraildes Maciel Mota e trata os Jogos Olímpicos por tu. Ou por você, como os brasileiros usam no seu modo mais informal. A mulher que nasceu em março de 1978 apaixonou-se pelo futebol e cresceu num meio que viu brilhar Romário, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e tantos outros. E se ela não conseguiu ser campeã do mundo, há algo que os seus compatriotas nunca vão conseguir alcançar: a longevidade.
Miraildes pode tratar os Jogos Olímpicos, ou os Mundiais de futebol, por tu, mas a ela toda a gente trata por Formiga. É a alcunha perfeita para uma futebolista que não se importa de fazer o trabalho sujo, de suar em campo, de carregar o piano, a bateria, o violoncelo e a orquestra toda para que uma maestrina possa brilhar.
Formiga nunca se destacou necessariamente pelo que fez num lance, num jogo ou num campeonato. Destacou-se porque toda a gente se habituou a ver Formiga. Em todo o lado. A toda a hora. Quando se estreou no Mundial em 1995, o segundo oficial na história da FIFA, tinha apenas 17 anos e três meses. E desde aí nunca mais desapareceu.
Esteve em todos os Mundiais a partir de então e em todos os Jogos Olímpicos desde 1996, em Atlanta. Quando o Brasil defrontar a China esta quarta-feira, a partir das 09h00 (hora de Portugal continental), Formiga estará a participar pela sétima vez consecutiva nuns Jogos.
O ditado – e talvez a ciência, mesmo – diz que uma formiga consegue carregar até 100 vezes o seu peso; esta Formiga consegue carregar o peso todo da história sem se queixar. Nunca foi campeã do mundo, só tem um segundo e um terceiro lugares. Nunca foi campeã olímpica, só tem duas medalhas de prata. Mas tem algo que não está ao alcance de mais ninguém: um lugar na história.
Formiga tem o pleno de participações nos Jogos Olímpicos. O torneio feminino só foi introduzido em 1996 e Formiga lá estava, ainda adolescente, a dizer presente. Só falhou um Mundial organizado pela FIFA, o primeiro, em 1991, na China. De resto, esteve sempre lá.
De Atlanta-1996 a Tóquio são sete edições consecutivas. Estreou-se com 18 anos e nem o adiamento de um ano de 2020 para 2021 impediu que voltasse a dizer presente, agora já com 43 anos. O tempo passa por ela, como passa por todas as outras. Já não tem a mesma vivacidade de outrora, a mesma resistência, o mesmo pulmão. Mas continua a ser uma verdadeira formiga. A trabalhar, incansável, em busca da glória.