Fontaine. Just score it!
Francês entrou na história das fases finais dos Mundiais ao marcar 13 golos em 1958. Recorde ainda não foi batido – nem parece possível no futuro. Esta é a história de um homem que nasceu em Marrocos, foi para França com vinte anos e se tornou uma das maiores figuras da então potência do Stade de Reims.
Uma história igual a tantas outras… mas especial
Marrocos só garantiu a independência em 1956, dois anos antes do Mundial-1958 disputado na Suécia e quando Just Fontaine já tinha 22 anos. Para o pequeno Just, nascer em Marraquexe significava ser tão francês como todos os outros.
O futebol tornou-se um passatempo do qual não podia, nem queria, fugir, e a mudança para Casablanca, para onde foi estudar, abriu caminho para começar a jogar no USM, uma equipa local. As únicas notas que lhe interessavam eram aquelas que lhe davam depois de cada desempenho em campo.
Um golo aqui, dois golos ali, três logo a seguir. Com uma média superior a um por jogo ao serviço do clube entre 1950 e 1953, a província de Marrocos tornou-se demasiado pequena para o talento e para o faro goleador de Fontaine.
O francês, então com 19 anos, atravessou o Mediterrâneo e ficou logo numa das cidades mais próximas: Nice. Os observadores da equipa da riviera francesa viram nele o que era: um verdadeiro portento e com uma margem de progressão capaz de conquistar o país, a Europa e o mundo.
Com razão. A chegada à seleção deu-se logo na primeira época pelo Nice e o título em 1956, numa temporada em que curiosamente só fez cinco golos em 17 jogos, abriu caminho para o salto para o Stade de Reims, onde durante dois anos jogou ao lado de Raymond Kopa.
Aí, não houve margem para dúvida. Com mais três títulos de campeão (1958, 1960 e 1962), Fontaine somou golos atrás de golos e ajudou a levar a equipa a uma final da Taça dos Campeões Europeus, em 1959.
A inesquecível Suécia
Quando Just Fontaine foi selecionado por Albert Batteux para a equipa francesa no Mundial-1958, tinha apenas quatro golos em cinco jogos pela seleção. Menos de três semanas depois, o cenário seria radicalmente diferente, escrevendo uma história que até hoje ninguém conseguiu superar.
França ficou inserida no grupo 2, com Jugoslávia, Paraguai e Escócia. No jogo de estreia, a 8 de junho, em Norrköping, Fontaine fixou a fasquia com um hat-trick na goleada ao Paraguai por 7-3. Podia ter sido apenas um acaso mas três dias depois voltou a evidenciar-se pela positiva, com dois golos na derrota perante a Jugoslávia (3-2).
Quando a França garantiu o apuramento para os quartos-de-final ao bater a Escócia (2-1) e Fontaine marcou mais um golo, as contas eram fáceis de fazer. Seis golos em três jogos e o recorde de Kocsis, que havia marcado onze em 1954, estava ao alcance caso a seleção chegasse longe.
Fontaine era uma fonte de golos, utilizando o trocadilho fácil. Perante uma surpreendentemente apurada Irlanda do Norte, a goleada por 4-0 abriu caminho a mais duas celebrações do avançado e à garantia de mais dois jogos na fase final.
Contas feitas: oito golos em quatro jogos, a três do recorde e com dois jogos por disputar, fosse meia-final e final ou meia-final e jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares. A 24 de junho, o sonho gaulês caiu perante o Brasil de Pelé, autor de um hat-trick, que caminhava para o primeiro título mundial. Mas Fontaine voltou a marcar e atingiu a fasquia dos nove golos.
Faltavam 90 minutos e só a RFA se colocava entre Fontaine e o recorde. O avançado precisava de dois para empatar o recorde de Kocsis e de três para se isolar, mas a história ia ser escrita de outra forma. Fontaine marcou quatro (!) e chegou aos 13 golos na fase final, terminando com chave de ouro uma das melhores campanhas individuais de um jogador.
Fontaine marcou treze golos, com um póquer e um hat-trick pelo meio, e fez o gosto ao pé em todos os seis jogos do torneio. E, apesar de ter participado apenas nessa fase final, continua na quarta posição dos melhores marcadores de sempre da prova, numa tabela liderada por Miroslav Klose (16 em quatro fases finais), Ronaldo (15 em três) e Gerd Müller (14 em duas).
Fontaine era especial. E hoje, aos 84 anos, continua a ser uma lenda viva do futebol e da história dos Mundiais.