Figuras Olímpicas XVII - Chunsong Shang
Quando estava a dar os primeiros passos na ginástica artística, a família sacrificou-se para que pudesse pagar a mensalidade. Os pais pediram dinheiro a quem esteve disponível para emprestar e o irmão, parcialmente cego, abandonou a escola para trabalhar como massagista, aos 13 anos. Agora já tirou os pais da pobreza, comprou uma casa para o irmão e não vai descansar enquanto não lhe conseguir pagar uma operação. A prioridade do irmão é outra: «Não me interessa quanto dinheiro ganha, só quero que ela possa sorrir mais.»
Mover montanhas
A infância de Chunsong Shang dificilmente poderia ter sido mais complicada. Filha de um casal que trabalhava na construção civil, nasceu e cresceu numa das regiões mais remotas e pobres da China.
A pobreza na família fez com que Chunsong crescesse subnutrida. Não havia dinheiro para praticamente nada e cada dia era vivido como uma aventura, até para ir para a escola. Juntamente com o irmão, Shang Lei, parcialmente cego, tinha de atravessar uma montanha diariamente para aprender.
O caminho era difícil. De manhã, com a luz do sol, Shang Lei, seis anos mais velho, carregava a irmã em ombros mas à noite, na escuridão, não tinha como ajudar e era a vez de Chunsong retribuir, dando-lhe a mão e guiando-o pelos trilhos de volta a casa.
A parceria terminou em 2003, quando Chunsong Shang foi para um ginásio. A mensalidade tornou-se mais um fardo financeiro para a família e o irmão decidiu abandonar a escola e começar a trabalhar como massagista, uma profissão muito comum entre os cegos na China.
«Quando era nova, a minha família teve de pedir dinheiro emprestado por minha causa. O meu irmão deixou a escola», confirma a ginasta de 20 anos.
Rio de Janeiro
Depois de participar nos Mundiais de Ginástica em 2013, 2014 e 2015 (duas medalhas de prata na prova por equipas), Chunsong Shang alimentava o sonho de alcançar uma medalha individual. Para trás, estavam todos os prémios financeiros que lhe tinham permitido tirar a família da pobreza e comprar uma casa para o irmão.
«Nunca entendi o que eles sacrificaram por mim como pressão. Para mim é uma motivação, algo que me faz continuar a dar tudo a cada momento», diz, acrescentando que ter tirado a família da pobreza não traz nenhum mérito especial: «Não fiz nada de mais. Fiz o que devia ter feito.»
No Rio de Janeiro, não foi além de uma medalha de bronze na prova por equipas. A pequena chinesa, 1,40 metros, esteve perto da medalha no concurso completo mas terminou a pouco mais de um décimo da russa Aliya Mustafina.
A perceção de que tinha falhado por tão pouco fez com que fosse apanhada pelas câmaras a chorar compulsivamente. «Quando vi o resultado tão perto do meu, senti-me muito mal. Pensei que podia ter conquistado uma medalha», justificou.
Com a família na mente
A final das paralelas assimétricas era uma nova oportunidade para a ginasta. Em casa, a família sofreu com ela. No Rio, a preocupação era recíproca.
Depois de ter terminado no quinto lugar, as primeiras palavras foram para a família: «Só quero que eles não fiquem preocupados. Não concretizei os meus sonhos mas vou continuar a lutar até conseguir. Quero dizer-lhes para ficarem bem e não se preocuparem.»
O irmão Shang Lei acha que Chunsong não precisa de sentir tanta pressão para continuar a ajudar a família. «Não me interessa quanto dinheiro ganha, só quero que ela possa sorrir mais.»
RPS