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É Desporto

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01 de Setembro, 2016

Figuras Olímpicas XVI - Diego Hypólito

Rui Pedro Silva

Diego Hypólito, à esquerda, conquistou a medalha de prata

«Caí de bunda, caí de cara e dessa vez eu caí de pé!» Depois das desilusões em Pequim-2008 e Londres-2012, o ginasta brasileiro venceu finalmente uma medalha olímpica (prata no solo). As lágrimas de tristeza de alguém que foi internado e perdeu dez quilos durante uma depressão profunda foram substituídas pelas de alegria.

 

 

Queda para a ginástica

 

Pequim, Jogos Olímpicos de 2008. Diego Hypólito tem 22 anos e é considerado o grande favorito ao título no solo, na ginástica artística. Bicampeão mundial, chegou à final com a melhor marca da qualificação, mas caiu de rabo após uma série acrobática e viu o sonho de uma medalha esfumar-se.

 

«Eu estou dececionado, não é? Eu não sei o que aconteceu ali. Não deu dessa vez», disse, antes de começar a chorar compulsivamente e ter sido confortado pelos próprios jornalistas.

 

Londres, Jogos Olímpicos de 2012. Diego Hypólito está mais velho, mais experiente mas não tem o mesmo favoritismo de outrora. Em Inglaterra, logo na qualificação, volta a falhar o final de uma série acrobática e cai com a cara no chão, com bastante estrondo.

 

«Segunda olimpíada, segunda queda. Não se pode dizer que eu não… não sei. Não converti bem por erro meu. Só com quatro anos é que a gente pode ajustar isto», afirmou, já com um discurso mais ponderado, maduro e com a desilusão menos visível.

 

Não há duas sem três?

Emoção de Diego Hypólito

Rio de Janeiro seria o terceiro capítulo da experiência olímpica do paulista de nascimento e carioca de residência. A pressão era maior: afinal, estaria a atuar perante o seu próprio público, faminto de medalhas.

 

«Depois de Londres, quando decidi continuar na ginástica, tive de enfrentar todos os meus medos. Tinha muito medo de chegar aos Jogos Olímpicos e cair de novo. Ouro, prata, bronze, isso não era o mais importante. Queria vencer os fantasmas que tinha dos Jogos Olímpicos», afirmava.

 

O caminho foi muito difícil. Quando em 2013 o Flamengo decidiu acabar com a equipa de ginástica artística, Hypólito ficou sem emprego e sem espaço para treinar. A solução foi voltar a São Paulo.

 

A sucessão de desilusões fez com que sofresse de uma depressão profunda. Emagreceu dez quilos, foi internado e o diagnóstico geral era o de que nunca voltaria a participar numas Olimpíadas.

 

Mas Hypólito estava habituado a contornar adversidades. «Muitas pessoas não sabem da minha realidade, mas eu era uma pessoa muito pobre. Já vendi bebidas na praia com o meu pai», recordou o ginasta que começou na modalidade com sete anos, impulsionado pela irmã Daniele.

 

Desporto como redenção

 

A ginástica artística sempre foi mais do que um simples desporto. «Deu-me a oportunidade de melhorar a minha vida. Tive muitas desilusões, vitórias e derrotas. O desporto ajudou-me muito na superação», afirmou o brasileiro que começou a dar mortais com cinco anos.

 

No Rio, Diego Hypólito voltou a estar abandonado, isolado em si mesmo e com o objetivo de mostrar que valia mais do que o que conseguiu fazer em Pequim e Londres. E fê-lo com distinção, terminando a final do solo na segunda posição, atrás apenas do britânico Max Whitlock.

 

«Como qualquer pessoa, tenho problemas. A minha cabeça foi a minha grande adversária mas consegui recuperar e gostaria que isto servisse de exemplo para as pessoas que assistiram. Podemos vencer sempre, podemos acreditar em nós mesmos», afirmou.

 

A sensação de objetivo concretizado foi tão grande que nem largava a medalha. «A minha relação com a medalha é de namoro. Nos primeiros dias, dormi com ela ao lado.»

 

RPS