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É Desporto

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24 de Agosto, 2016

Figuras Olímpicas V - Pita Taufatofua

Rui Pedro Silva

Taufatofua na cerimónia de abertura

A imagem de Taufatofua a entrar em tronco nu na cerimónia de abertura tornou-se viral mas a história que está por trás é ainda mais impressionante: trabalha com crianças sem-abrigo em Brisbane e já evitou vários suicídios. Para chegar aos Jogos Olímpicos partiu seis ossos, fez três roturas de ligamentos, andou três meses de cadeira de rodas, um ano e meio de canadianas e passou centenas de horas em fisioterapia. «Valeu a pena», garante. 

 

Um sonho criado em 1996

 

Pita Nikolas Taufatofua nasceu a 5 de novembro de 1983 e era uma criança de 12 anos quando o Tonga venceu a sua única medalha olímpica. O herói foi Paea Wolfgramm, que perdeu a final do boxe, na categoria de-91 quilos, para o ucraniano Wladimir Klitschko.

 

No regresso ao Tonga, houve uma cerimónia que juntou milhares de pessoas. Taufatofua estava lá, era uma das crianças que ajudou a juntar as letras do nome de Wolfgramm para quando este passasse. Foi aí, nesse momento, ao ver o herói olímpico do Tonga, que percebeu: um dia seria atleta olímpico.

 

O caminho não foi fácil, garante o próprio nas redes sociais: «A verdade nem sempre é glamorosa, nem sempre é brilhante. A verdade é que tive mais lesões do que consigo contar, que perdi mais combates do que ganhei, que passei por graves problemas financeiros e que perdi grandes amizades ao procurar este sonho.»

 

O tonganês não está a exagerar. Durante o caminho de vinte anos até à qualificação para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, partiu seis ossos, fez três roturas de ligamentos, andou três meses de cadeira de rodas, um ano e meio de canadianas e passou centenas de horas em fisioterapia. No final de tudo, a conclusão é simples: «Valeu a pena!»

 

«Se há coisa de que me posso orgulhar é de nunca ter desistido, nunca ter parado. O desafio é o meu campo de batalha. O que me orgulha não é a minha habilidade, há muitos melhores do que eu, o que me orgulha é a minha persistência», garante.

 

Vida complicada em Brisbane

Pita foi afastado logo no primeiro combate

O atleta de 32 anos, 1,92 metros e 100 quilos começou a praticar taekwondo com cinco anos. As desilusões de falhar o apuramento para Pequim e Londres não o afetaram e as seis horas de treino diário em Brisbane, na Austrália, onde agora vive, finalmente compensaram.

 

Mas nunca foi fácil. Aliás, a página em que pediu donativos para a preparação continua ativa, com quase 10 mil dólares oferecidos por 127 pessoas. Fora do desporto, a vida de Taufatofua também é complicada, ao trabalhar numa instituição que ajuda crianças sem-abrigo a prepararem-se para a vida adulta.

 

«Tomo conta de crianças sem-abrigo. Temos crianças que são suicidas, que sofrem de ansiedade ou depressão, e ajudo-os nos problemas que têm. Já evitei que crianças se atirassem de pontes. Têm muitos problemas associados ao facto de crescerem sem casa e é um grande desafio», confessa.

 

Objetivo concretizado

Taufatofua não se limitou a qualificar para o Rio de Janeiro. Ele tomou os Jogos Olímpicos de assalto ao entrar unicamente com um traje tipicamente tonganês na cerimónia de abertura e o tronco nu, besuntado de óleo.

 

O atleta tornou-se uma sensação imediata e durante dias foi alvo de atenção mediática por parte da imprensa internacional. Quando entrou em prova, a 20 de agosto, todo o pavilhão estava a torcer por ele e a gritar pelo Tonga.

 

O apoio era unânime mas o iraniano Sajjad Mardani não se incomodou com isso. Em 21 segundos já ganhava 3-0. «Já estava 9-0 e eu ainda nem sequer tinha começado a dar pontapés», comenta o tonganês.

 

O resultado final, 16-1, não espantou ninguém e também não incomodou Taufatofua. «Há mais no desporto do que ganhar… digo isto porque perdi», brinca.

 

Imitar Paea Wolfgramm continua a ser o grande objetivo: «Precisei de vinte anos para chegar aqui, talvez sejam precisos mais vinte para conquistar o ouro.» De qualquer forma, a lição que quer transmitir é outra: «Não te sentes a um canto, não deixes que o mundo dite o que podes ou não fazer.» 

RPS