Fehaid Al-Deehani. Independente, mas não tanto
Atirador do Kuwait fez história ao conquistar o primeiro título olímpico para o Comité de Atletas Independentes. Garante que o título é só dele e confessa que teve de conter as lágrimas ao não ver a bandeira do Kuwait na cerimónia de pódio.
Depois do Kuwait não pode haver mais nada
Fehaid Al-Deehani nasceu a 11 de outubro de 1966 no Kuwait. Militar de profissão, teve de passar por momentos muito difíceis na estabilidade do país, sobretudo durante a Guerra do Golfo.
A vida que levava empurrou-o para o tiro. Nos Jogos Olímpicos, antes do Rio de Janeiro, já tinha conquistado duas medalhas: bronze na fossa dupla em Sydney em 2000 e novamente bronze na fossa em Londres em 2012.
Para o Brasil, o objetivo era fazer melhor. Se lá chegasse. O caso não é inédito: o Comité Olímpico Internacional decidiu banir o Kuwait por culpa da ingerência governamental no desporto.
Com o tempo a escassear, várias foram as vozes que tentaram promover o bom senso para reverter a decisão, mas Al-Deehani não teve outra solução que não aceitar participar no Rio de Janeiro pela equipa de atletas independentes.
«É a primeira vez que passo por uma situação destas. É verdade que em 2012 fomos banidos uma semana antes dos Jogos Olímpicos, mas a situação foi resolvida a tempo. Neste momento sentimo-nos perdidos, não sabemos o que nos espera», disse o atirador há umas semanas.
Competir… mas sem dar confiança
O atirador era a grande figura do Comité dos Atletas Independentes e foi convidado para ser o porta-estandarte na cerimónia de abertura. Al-Deehani, que já tinha tido muitas dúvidas para aceitar a possibilidade de competir no Rio sem ser pelo Kuwait, recusou.
«Sou um militar, só transporto a bandeira do Kuwait. Não posso fazer o mesmo pela bandeira olímpica», justificou.
Al-Deehani queria participar mas ignorava o facto de estar a fazê-lo sob o Comité dos Atletas Independentes. Foi por esse motivo que a cerimónia do pódio, após conquistar o ouro na fossa dupla, o deixou insatisfeito.
«Acabei de vencer a medalha de ouro, o meu melhor resultado nos Jogos Olímpicos, e não vejo a bandeira do Kuwait. Magoa-me muito, estou a fazer o possível para conter as lágrimas», admitiu.
Pelo Kuwait
Al-Deehani reconhece, no entanto, que o desporto no seu país atravessa um momento complicado: «Sempre teve obstáculos. Sempre foi estéril, sem recursos. Nunca foi adequado, mesmo na era dourada, na era do futebol. Estava a progredir mas sem estratégia. E quando vínhamos aos Jogos Olímpicos, tínhamos equipamentos que valem tostões enquanto outros atletas têm designers particulares.
O atirador apelou ao bom senso das partes para encontrar uma solução mas, mesmo após a alteração de algumas leis, o Governo continua a ter a possibilidade de dissolução das associações e federações desportivas.
Resignado, Al-Deehani competiu na mesma pelo seu país, oficiosamente. «Nunca é tarde, consegui ganhar finalmente. Foi o meu dia e este título tem um significado imenso para o Kuwait.»
E para os Atletas Independentes? «Esta vitória é apenas para mim. Gostava de poder dá-la ao Kuwait mas foi banido. Considero que o título é apenas meu.»
RPS