Emily Seebohm. O lado B de uma atleta olímpica
Ser atleta de alta competição não é pera doce. Aliás, é preciso mesmo muita fruta para chegar ao topo de uma modalidade. Quem vê de fora, está habituado a perceber a glória do triunfo e a tristeza do fracasso, mas raramente está verdadeiramente dentro do sacrifício.
Para Emily Seebohm, nadadora australiana, o desporto de alta competição estava na sua vida ainda antes de saber realmente que era ter uma vida. O pai jogava aussie rules, a mãe praticava netball e também era treinadora de natação, por isso não espanta a atração que tenha sentido (ou para a qual tenha sido empurrada) pelo desporto.
Não é fácil, porque nunca é. Não há talento no mundo, sobretudo na natação, que consiga vingar perante a falta de sacrifício, de horas, dias, anos inteiros a trabalhar com um único objetivo em mente. E os de Emily nunca foram parcos. É até uma atleta com sucessos capazes de impressionar qualquer um, sobretudo para a dimensão de grandeza do desporto em Portugal.
Emily Seebohm tem cinco medalhas olímpicas. Foi prata nos 100 metros costas (uma das disciplinas em que vai participar em Tóquio) em Londres-2012, num ano em que também foi campeã olímpica na estafeta dos 4x100 metros livres e vice-campeã na estafeta dos 4x100 metros estilos. Nesta última categoria, também foi campeã em Pequim-2008 e prata no Rio de Janeiro-2016.
Durante o mesmo período, por exemplo, Portugal somou apenas quatro medalhas: um ouro, duas pratas e um bronze. A caminho dos 30 anos (nasceu em junho de 1992), Emily Seebohm passou por uma das fases mais complicadas da sua carreira.
A confissão é da própria, no final de 2020. «Há mais de dois anos que estou a sofrer de distúrbios alimentares. Tenho períodos em que como compulsivamente para depois vomitar e tomar laxantes. Contei calorias, saltei refeições e estava constantemente a pesar-me», começou por dizer.
A vida de Emily tornou-se insustentável. Tinha vergonha de aparecer de fato de banho e não gostava do que via ao espelho todos os dias de manhã. «Tinham-me dito que só conseguiria ser mais rápida na água se emagrecesse e acreditei», lamentou.
A confissão no final do ano não foi apenas o reconhecer de um problema, foi uma promessa de que 2021 seria um ano de mudança. «Decidi que vou ser mais corajosa para o meu bem. Vou dar ao meu corpo o amor que ele merece e, para começar, terei de ser honesta com toda a gente, incluindo comigo mesma», afirmou.
Agora, sete meses depois, Emily Seebohm está de regresso a uns Jogos Olímpicos. A pior fase parece estar ultrapassada, mas o caminho é sempre longo. Os sacrifícios passaram fatura mas percebeu a tempo que há alguns que não valem a pena. O lema de «ser o melhor que conseguires ser» não é afetado pelo amor próprio nem exige comportamentos que danifiquem a sua saúde.
Os Jogos Olímpicos vão servir como o cruzar de uma meta. O virar de mais uma página. Será também com mais uma medalha?