Edoardo Mangiarotti. Andar 24 anos a ganhar medalhas olímpicas
Especial Jogos Olímpicos (Roma-1960)
Esgrimista italiano pode nem sempre ser lembrado mas é um dos atletas mais impressionantes do mundo olímpico. Com treze medalhas conquistadas entre 1936 e 1960 – quatro delas individuais -, tornou-se um nome incontornável da modalidade e dos Jogos. A longevidade foi uma das suas imagens de marca.
Ainda não havia Michael Phelps. Nem Larisa Latynina. Nem Nikolai Andrianov. Quando Edoardo Mangiarotti se estreou nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, era apenas um adolescente de 17 anos com sonhos maiores do que a vida.
Nascido numa família de esgrimistas, tornou-se um produto de laboratório. O pai, Giuseppe, era uma lenda da modalidade, tinha sido campeão nacional 17 vezes, e fez questão de fabricar uma máquina, sem descurar qualquer pormenor. Numa era em que os canhotos por todo o mundo eram obrigados a ser destros, Edoardo foi forçado a manejar a espada com a mão esquerda, apenas pela vantagem teórica que ganharia durante um combate.
Quando começou a competir a nível sénior, Edoardo era já uma séria ameaça. Campeão júnior aos onze anos, estreou-se nos Jogos Olímpicos com 17, numa altura em que já tinha experiência em Mundiais… inacreditavelmente sem medalhas.
Os «Jogos de Hitler» marcaram o início de uma lenda: medalha de ouro na prova de espada por equipas e dado o pontapé de saída para uma carreira mítica. Se a Alemanha Nazi abriu caminho para o seu estatuto, também conseguiu quebrar a sua evolução olímpica.
Com a Europa a ser destruída um pouco por todo o lado, Edoardo Mangiarotti perdeu a oportunidade de participar nas edições que se disputariam em 1940 e 1944. Se o tivesse feito, o seu currículo seria ainda mais impressionante. Entre 1936 e 1948, quando o palco olímpico regressou em Londres, o italiano ganhou quatro medalhas em Mundiais: duas delas em Lisboa-1947, ambas de bronze.
Entre Paris-1937 e Filadélfia-1958, o palmarés de Mangiarotti em Mundiais cresceu de forma assustadora: 13 medalhas de ouro, oito de prata e cinco de bronze. Mas os olhos estavam postos nos Jogos Olímpicos.
Em Londres conquistou duas medalhas de prata e uma de bronze. Em Helsínquia, foi pela primeira e única vez campeão olímpico numa prova individual e ainda conquistou mais uma medalha de ouro e duas de prata. Em Melbourne somou dois títulos e uma medalha de bronze. Em Roma, finalmente, 24 anos depois da estreia olímpica, Mangiarotti apareceu determinado. Queria fazer história. E conseguiu-o.
Restava muito pouco do adolescente que vivia na sombra do pai. O currículo falava por ele mas continuava a haver objetivos por alcançar. A combater na sua Itália, o nome a abater era Paavo Nurmi, o finlandês do atletismo que era ainda o atleta olímpico com mais medalhas na história (12).
Edoardo tinha 11. Mas sabia que tinha capacidade para bater o recorde. E assim foi, graças à medalha de ouro na prova de espada por equipas e à de prata na competição de florete por equipas. Era a consagração que faltava ao homem que foi eleito, em 2003, o melhor esgrimista da história pelo Comité Olímpico Internacional.
A marca do italiano pode não ter durado muito tempo. Afinal de contas, Larisa Latynina já competia desde 1956 e viria a elevar o recorde até 18 na edição de 1964, em Tóquio. Mas durante quatro anos Edoardo esteve no topo do desporto olímpico.
E o pai Giuseppe, a viver os seus últimos anos de vida, pôde finalmente descansar. Pode nunca ter vencido uma medalha olímpica (competiu em 1908, sem sucesso), mas os seus filhos – e não apenas Edoardo – corresponderam aos seus ensinamentos.
Edoardo Mangiarotti notabilizou-se com as 13 medalhas olímpicas, mas Dario também saboreou a glória, com três pódios. Só Mario, o mais novo dos três, ficou de fora desta contenda, ganhando ainda assim uma medalha de prata num Mundial.