Dawn Fraser. Da tragédia familiar à glória olímpica
Especial Jogos Olímpicos (Tóquio-1964)
Australiana faz parte de uma elite exclusiva da natação que venceu a mesma prova individual em três edições diferentes dos Jogos Olímpicos. Mas antes de fazer história em Tóquio, em 1964, teve de superar o trauma de ter contribuído para a morte da mãe na sequência de um acidente de viação.
Dawn Fraser não era uma nadadora qualquer e o currículo fala por si. Venceu três medalhas em Melbourne-1956, três em Roma-1960 e duas em Tóquio-1964. Com um total de quatro títulos olímpicos e quatro pódios em provas individuais, a australiana nascida em setembro de 1937 estava talhada para fazer história.
A australiana era a rainha dos 100 metros livres. Foi essa prova que venceu, individualmente, nas três edições dos Jogos Olímpicos em que participou. Hoje, mais de 50 anos depois, o feito de revalidar duas vezes o mesmo título só foi igualado por duas pessoas: a húngara Krisztina Egerszegi nos 200 metros costas, entre Seul-1988 e Atlanta-1996 e, claro, Michael Phelps nos 100 metros mariposa, entre Atenas-2004 e Londres-2012.
Os feitos de Dawn Fraser não ficam por aqui. Foi a primeira nadadora a cumprir os 100 metros em menos de um minuto e deteve o recorde mundial da distância entre 1956 e 1972. Mas a participação em Tóquio esteve envolta em muito drama.
Primeiro, o pessoal. Em março, despistou-se ao volante de um automóvel onde também seguiam a mãe, a irmã e um primo e acabou por assistir à morte da mãe. A recuperação emocional foi longa mas não a impediu de marcar presença nas provas do Japão.
Aí, o drama foi substituído pela polémica, ao ser acusada de roubar a bandeira olímpica do Palácio do Imperador, já depois da sua participação. Negando sempre o sucedido, até por garantir que nunca na vida mergulharia nas águas sujas da fortificação, foi libertada sem acusação por parte dos japoneses. Em sentido contrário, começou por ser suspensa por dez anos pela federação australiana.
A carreira, para ela, terminou ali. Quando a verdade veio à tona e foi totalmente ilibada, já o mal estava feito e não tinha tempo para preparar a participação olímpica nos Jogos Olímpicos da Cidade do México em 1968, no ano em que completaria 31 primaveras.
A vida de Dawn Fraser evoluiu para a política, onde teve uma representação curta na Assembleia Legislativa, e mais recentemente foi notícia pelas suas declarações xenófobas, sugerindo aos tenistas Nick Kyrgios e Bernard Tomic que regressassem para os países dos pais.
«Sempre disse a verdade. Sempre me levaram a ser honesta e a dizer a verdade.» Palavra de Dawn Fraser, filha de pai nascido na Escócia.