Darya Domracheva. O par perfeito para Bjoerndalen
Bielorrussa terminou participação na Coreia do Sul com o título na estafeta feminina do biatlo e elevou para seis o número de pódios alcançados em Jogos Olímpicos. Se forem somados os do marido Ole Einar Bjoerndalen, a dupla já chegou às 19 medalhas.
Sair de cena e ficar na sombra
Ole Einar Bjoerndalen é uma figura emblemática do biatlo. Competindo ao mais alto nível desde 1992, tornou-se o recordista de medalhas olímpicas de Inverno em Sochi-2014 (13). Apesar de já ter 40 anos na altura, o atleta norueguês com a legítima alcunha de «Canibal» somou mais dois títulos olímpicos e superou a marca de Bjorn Daehlie (cross country-12).
A luta contra o tempo tinha um fim à vista. A Noruega é uma das melhores seleções no biatlo e Bjoerndalen não conseguiu garantir o apuramento para os Jogos de PyeonChang, que seriam os seus sétimos consecutivos.
Mas nem por isso deixou de viajar para a Coreia do Sul. Mais do que como adepto e marido de Darya Domracheva, foi como… treinador da seleção bielorrussa. O anúncio foi feito pelo secretário-geral da federação da antiga república soviética, Anatoli Stromski.
O objetivo nunca foi escondido: ajudar, dentro do possível, a mulher Darya. «Temos de fazer tudo para que ela se sinta psicologicamente bem em PyeongChang», disse Stromski. «Os Jogos são um grande evento para todos os atletas e será importante para mim ter o apoio do meu marido», confirmou Darya.
A lenda do biatlo foi relegada para segundo plano. Se tinha oficialmente o estatuto de treinador, fez questão de realçar desde o início que a Bielorrússia tinha gente muito competente. «Faço alguns testes com os esquis e pouco mais. Eles têm uma grande equipa, com bons treinadores. Só consigo mesmo ajudar dessa forma», explicou.
Eclipse crescente
Com o desenrolar dos dias, Bjoerndalen foi sendo cada vez mais ofuscado. E o recorde alcançado em Sochi começou a ser ameaçado desde a primeira final de PyeongChang, quando a norueguesa Marit Bjoergen foi medalha de prata na prova de skiathlon e chegou aos 11 pódios.
Depois, prova após prova, somou medalhas e relegou Bjoerndalen para a segunda posição. «Claro que a queria ver ganhar. A carreira que tem tido é sensacional, ela é muito forte. Anda a fazer isto há muitos anos», disse.
E se Bjoergen já conquistou quatro medalhas na Coreia do Sul e tem ainda a oportunidade de somar uma quinta, na prova dos 30 quilómetros, Darya Domracheva encerrou a participação em PyeongChang. Fê-lo com chave de ouro, vencendo o título na prova de estafeta feminina.
A medalha foi a sua segunda no evento e a sexta de uma carreira que inclui três títulos em Sochi (10 quilómetros de perseguição, 12,5 quilómetros de saída em massa e 15 quilómetros). Apesar de partilharem um palmarés invejável, o casal não fala assim tanto sobre o que se passa no meio da neve com uma espingarda agarrada ao corpo: «Não falamos sobre as corridas, ele limita-se a conversar comigo e a manter-me descontraída e relaxada».
Mas, depois da 19.ª medalha e 12.º título olímpico acumulados do casal, dificilmente conseguiram escapar a parar um segundo para pensar sobre o que já alcançaram. «Foi uma grande celebração, uma grande felicidade. Ele estava surpreendido e sentiu o mesmo que nós quando ganhámos a estafeta. Estas medalhas são importantes para acreditarmos em nós, para acreditarmos na nossa equipa, para ultrapassarmos os obstáculos que surgem no caminho.»
Sucesso dentro e fora de pista
Quando era mais nova, Darya Domracheva não demorou muito até dar nas vistas no biatlo. Curiosamente, tal como Bjoerndalen, também teve uma passagem pelo cross country, mas um pormenor mudou-lhe a vida para sempre: a abertura de uma escola dedicada ao biatlo na sua terra natal. Tinha 13 anos.
Os sucessos foram o capítulo seguinte, sem grande surpresa. Com 30 vitórias em Taças do Mundo e dois títulos mundiais, Domracheva não precisou de muito mais para se assumir como uma das melhores atletas do seu país.
Com seis medalhas, é a atleta olímpica mais medalhada (Verão e Inverno) na história da Bielorrússia. Os dois pódios em PyeongChang serviram para se separar de Vitaly Scherbo (quatro na ginástica artística) e Ekaterina Karsten (quatro no remo). Sem surpresa, já foi galardoada com o título honorário de Mestre do Desporto da Bielorrússia.
Fora de pista, a carreira está marcada pelo sucesso. Aproveitou o período da gravidez da filha para abrir uma marca de roupa em setembro de 2016. «Sempre gostei de criar e desenvolver novas ideias. Os meus pais são arquitetos e foi a eles que fui buscar o gosto pela arte», explicou.
«Não é uma surpresa para mim que tenha desenvolvido esta ligação com a arte em geral. Por que é que me deu para desenhar roupa? Talvez porque o resultado possa acabar por ser uma prenda para os meus fãs, que sentem a minha falta no biatlo», explicou a atleta na altura.
«Era importante para mim criar algo que motivasse as pessoas a praticar desporto, a explorarem os seus limites.»