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É Desporto

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27 de Abril, 2017

Dale Earnhardt Jr. Mais rápido do que o destino

Rui Pedro Silva

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Viu o pai morrer em ação mas nunca desistiu de tentar fazer história na NASCAR. Não conseguiu conquistar um título mas não teve dificuldades em assumir-se como a figura mais popular da categoria. Na hora do adeus, confessou o desejo: «Anunciar a minha decisão, em vez de algum destino decidir por mim.»

 

Filho (e neto) de piloto sabe acelerar

 

O fado parecia traçado. O avô foi piloto na NASCAR e o pai transformar-se-ia numa lenda do automobilismo. Dale Earnhardt Jr. seguiu-lhes as pisadas e chegou a queimar pneu no mesmo alcatrão que o seu «velho». Foi assim também na Daytona 500, em 2001, quando Earnhardt Sr. perdeu a vida num acidente aparentemente inofensivo. Dale Jr. terminara em segundo. Mais de 16 anos depois da tragédia, o homem mais popular da NASCAR coloca um ponto final nesta lengalenga, para ser ele a decidir o seu destino.

 

 

Foi na última curva da 200.ª volta da Daytona 500, na Florida, após mais de 800 quilómetros, que um acidente lhe roubou o pai, quando este prometia protegê-lo dos ataques de Sterling Marlin, segundo um analista da ESPN na altura. O dia estava quente e com algum vento. Dale Jr. acompanhou então o pai até ao hospital, depois de este ser desencarcerado do Chevrolet, para ouvir as notícias malditas. Little E ficou sem pai e a promessa de uma sombra que o congelaria com o volante nas mãos. Era apenas a sua segunda época completa na competição.

 

A glória veio a seguir, entre julho de 2001 e novembro de 2004, com 13 vitórias. Sentia-se «invencível» sem o pai na pista, contava um perfil do piloto do New York Times (2010). «Sentia que não podia ser tocado».

 

A morte volta a aparecer

 

Em 2004 a morte voltou a bater à porta. O seu amigo Ricky, também ele piloto, morreu num acidente de avião, com um tio e duas primas gémeas. Isso aproximou-o de Rick Hendrick, o pai de Ricky e o homem para quem corre desde 2008 na Hendrick Motorsports. «Temos um entendimento especial», admitiu Hendrick ao NYT. «Eu perdi um filho e ele perdeu um pai. E, sim, ele vem ter comigo para conselhos pessoais.»

 

Embora nunca tenha vencido um campeonato, algo que o pai, com o seu jeito duro e implacável, logrou sete vezes (76 vitórias), Dale Jr. venceu 26 corridas na elite das corridas com as curvas quase sempre para o mesmo lado. Dois desses triunfos registaram-se na Daytona 500 (2004 e 2014), o palco onde o pai se despediu. O homem de Kannapolis, Carolina do Norte, terminou 149 vezes no top-5 e 253 no top-10. Poles foram 13. Mergulhemos no pormenor: a carreira de 19 anos traduz-se em 603 corridas, 171861 voltas, das quais liderou 8195. Restam-lhe 28 corridas. Falta saber se vai fazer história ou procurar umas últimas curvas de diversão...

 

Não conhece o sabor da vitória desde 2015 e a melhor classificação este ano foi um quinto lugar - segue em 24.º na geral. A coisa não tem estado fácil, mas talvez seja consolado pelas 14 vezes que foi eleito o piloto mais popular da NASCAR.

 

Parar para pensar

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Agora, aos 42 anos, anuncia o fim da linha. Talvez por temer o destino do pai, talvez por ter aprendido que há outras coisas na vida. Durante a recuperação de uma lesão no ano passado, Dale Jr. teve mais tempo, percebeu a importância da família. Parou e pensou na vida. E agora tomou a decisão, nos finais de março.

 

«Isso tornou-se na minha motivação: a oportunidade de estar aqui neste palco e anunciar a minha decisão, em vez de algum destino decidir por mim.» O mais difícil, admite, foi anunciá-la a Hendrick. «Só não queria desiludir-te. Significas tanto para mim…»

 

No dia do adeus, quando só ele sabia, publicou um tweet para os seus mais de dois milhões de seguidores a dizer que estava acordado desde as quatro da manhã. Não conseguia pregar olho (um emoji deu uma ajudinha). Poucas horas depois, descobriu-se porquê. O número 88 que conduz vai deixar de lhe obedecer no final desta época. Mas Dale Jr. continuará sentado noutra besta qualquer, com outro exército de muitos cavalos ao seu dispor: o norte-americano tenciona participar em duas corridas na Xfinity Series, em 2018.

 

A NASCAR vai questionar-se sobre a sua existência sem o filho da lenda que conquistou o mesmo estatuto sem ser campeão. Dale Jr. vai continuar a ouvir música, conduzir karts e jogar golf na sua propriedade em Mooresville, na Carolina do Norte, onde replicou uma cidade ao estilo Western, com barbearia, cela de prisão, igreja e bar. Talvez agora tenha tempo para ser o xerife…

 

HTS