Charles Paddock. A velocidade do bezerro com duas cabeças
Especial Jogos Olímpicos (Antuérpia-1920)
Era visto como o homem mais rápido da década de 20 e provou-o na final dos 100 metros em Antuérpia. Por muito que lhe tenham traçado um futuro amargo e sem grande inspiração atlética, o texano que cresceu na Califórnia provou que estavam todos errados.
«É gordo. Tem um ombro mais alto que o outro. A coluna vertebral está afetada. A respiração nasal é deficiente. Parece um bezerro com duas cabeças.» Pode parecer impossível mas este foi o diagnóstico de um médico depois de analisar Charles Paddock.
É impossível ignorar que a constituição física do norte-americano era… peculiar. As pernas eram curtas e o tronco demasiado largo, afastando qualquer ideia padrão que se tenha sobre o protótipo ideal de um velocista.
Mais, o próprio estilo de corrida era rocambolesco, para ser amigável. Inclinava demasiado a cabeça para um lado e para o outro a cada passada e insistia em terminar as distâncias com um salto, tão longo quanto conseguisse, como se isso lhe permitisse ganhar uma vantagem sobre os rivais. Os treinadores apontavam-no como um exemplo… de tudo o que não se deve fazer numa corrida, mas reconheciam que era o melhor.
Charles Paddock chegou ao atletismo de velocidade um pouco por acaso. Nasceu no Texas em 1900 mas a propensão para os problemas de saúde forçou a família a mudar-se de malas e bagagens para a Califórnia. Aí, pela primeira vez, teve contacto com as corridas e começou por enamorar-se pelas de longa distância. Depois de aconselhado pelo pai, fixou-se nas provas de velocidade… com sucesso.
Quando chegou a Antuérpia em 1920, com 20 anos acabados de fazer, Paddock já era um dos principais nomes entre os velocistas. E, quando foi preciso confirmar esse domínio, não vacilou, conquistando um total de três medalhas.
Foi campeão olímpico dos 100 metros – com o mesmo tempo (10,8 segundos) do compatriota Morris Kirsey -, conquistou a medalha de prata nos 200 metros e fez parte da equipa dos Estados Unidos que venceu a estafeta dos 4x100 metros.
Foi o seu ponto alto. Quatro anos depois voltou a ser atleta olímpico mas não foi além da repetição da medalha de prata nos 200 metros. O homem de 171 centímetros e 74 quilos tinha contrariado os piores vaticínios e demonstrado que um «bezerro com duas cabeças» podia fazer história no desporto mundial.