Chad le Clos. Ele só quer que os pais sintam orgulho
Nadador bateu o herói Michael Phelps em 2012 nos 200 metros mariposa e no Rio de Janeiro falhou o pódio, terminando no quarto lugar. O mais importante estava nas bancadas: tanto o pai como a mãe estão a lutar contra o cancro.
O jovem derrota a lenda
Chad le Clos nasceu em 1992 e começou a nadar com oito anos, precisamente na mesma altura em que Michael Phelps se estreou em Jogos Olímpicos. Na altura, não tinha a noção da dimensão que o norte-americano ia alcançar mas os anos seguintes não deixaram dúvidas: estava ali o seu herói.
A competir desde os dez anos, estreou-se em Jogos Olímpicos em Londres-2012. Estava inscrito para participar em cinco corridas e teria o herói como adversário em todas. Antes do evento, em entrevista, fazia notar isso mesmo.
«O que vai ser especial nestes Jogos é o facto de o Phelps também estar a nadar, e nas mesmas provas. Ele tem sido um modelo. Estar ao lado dele será uma grande honra para mim», dizia.
Mas não foi suficiente. Nos 200 metros mariposa, a prova rainha de Michael Phelps, Le Clos proporcionou uma das maiores surpresas dos Jogos Olímpicos e conquistou a medalha de ouro com cinco centésimos de vantagem.
«Isto é um sonho. Sempre disse que era o meu herói. Queria estar na final e consegui-o. O meu treinador recordou-me que já tinha feito tudo o que havia para fazer, mas lembro-me de estar sentado na sala de espera a pensar que ele nunca tinha perdido esta corrida em dez anos de provas», confessou após o triunfo.
Le Clos estava a caminho de ser campeão olímpico mas nem por um segundo perdeu a sensação de estar com o ídolo ao lado: «Lembro-me de ter virado para os últimos 50 metros e estar à procura dele por baixo de água, a pensar que aquele era o meu herói. Foi uma loucura.»
«Ganhar ao Phelps é algo que quis a minha vida inteira», garantiu.
Um reencontro com outros contornos
Le Clos e Phelps reencontraram-se na final dos 200 metros mariposa no Rio de Janeiro e o norte-americano não deu tréguas. Agora, Le Clos já não era o jovem rebelde prestes a surpreender o mundo. Era um dos cabeças-de-cartaz e, como tinha admitido ainda antes de Londres, a grande participação seria nos Jogos do Brasil. 2012 não tinha sido mais do que um bónus, um aperitivo.
A vida trocou-lhe as voltas. Aquele que estava destinado a ser o maior momento da carreira, e da vida pessoal, partilhada com uma enorme família, foi vivido a meio gás. O anúncio, em comunicado, chegou em julho: tanto o pai como a mãe estavam a lutar contra o cancro e tinham sido operados recentemente.
«A minha mãe Geraldine tem cancro da mama, que regressou depois de ter entrado em remissão em 2010. Foi sujeita recentemente a uma dupla mastectomia e está a fazer quimioterapia. O meu pai tem cancro da próstata e também foi operado no final de junho. Não tem sido fácil mas estou a treinar arduamente para o Rio de Janeiro. Mais do que tudo, quero que vençam as suas batalhas. Espero que possam estar no Rio», disse.
Convidados especiais
Bert e Geraldine estão no Rio de Janeiro, tal com os dois irmãos de Chad. À semelhança de tantos outros momentos importantes na carreira do nadador, fizeram questão de estar presentes apesar das dificuldades. Afinal, esta é a mesma família que uma vez, nas qualificações na África do Sul, chegou a ter 62 elementos num pavilhão para apoiar o atleta.
«O meu pai é um de dez irmãos, portanto deve dar para perceber a dimensão do apoio que tenho da parte dele, são milhões de primos e tios», revelou Chad de Clos.
Os problemas de saúde dos pais preocuparam-no mas o treinador, Graham Hill, considera que o facto de estar a nadar por outros motivos até pode ajudar. Le Clos confessa que estão a ser os meses mais difíceis da sua vida mas que nunca treinou tanto como para esta edição dos Jogos Olímpicos.
E o estado até pode ser«uma bênção disfarçada»: «A doença deles deixa-me mais forte.»
No Rio de Janeiro, Chad le Clos arrancou com a medalha de prata nos 200 metros livres antes de falhar surpreedentemente o pódio nos 200 metros mariposa. Mas a participação não fica por aqui: ainda vai competir nos 4x200 metros livres e nos 100 metros mariposa.
«É difícil, tem sido difícil. É uma semana emotiva, sabem como é. Quando vou para o bloco e ouço o meu pai a gritar por mim é muito importante. Só quero que fiquem orgulhosos», confessa.
RPS