Casey Kaufhold. A menina-prodígio do tiro com arco
Casey Kaufhold não vai ser a atleta mais jovem nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Longe disso. Com 17 anos feitos em março, a atleta norte-americana nem estará, provavelmente, no top-100 dos mais jovens em prova.
Mas a juventude de Casey não se pode resumir ao ano do bilhete de identidade. Se há matérias em que transpira experiência (já lá vamos), há outras em que parece um bebé acabado de nascer que nos faz sentir no ocaso da vida (que é como quem diz «velhos como uma carcaça com dois dias»).
Querem um exemplo? A NBC perguntou-lhe recentemente qual era a memória mais antiga que tinha dos Jogos Olímpicos. É certo que tem apenas 17 anos mas mesmo assim a resposta é muito surpreendente.
«Foi quando a Simone Biles foi para os seus primeiros Jogos em 2016. Nessa altura eu queria participar nos Olímpicos como ginasta. Tinha o objetivo de fazer algo que adorasse num palco grande como aquele», afirmou.
Sim, Casey Kaufhold é uma atleta do tiro com arco com alma de ginasta. Mas olhando para a sua vida é fácil de perceber a razão para não ter tido sequer hipótese para fugir ao tiro com arco. Os pais, Robert e Carole, são proprietários de uma fábrica de produtos da modalidade e Robert chegou mesmo a fazer parte da seleção norte-americana, em mais do que uma ocasião.
Se em 2016, com 12 anos, Casey olhava para Simone Biles e queria ser uma ginasta nos jogos Olímpicos, no ano seguinte começou a fazer história no tiro com arco. E de que maneira! No campeonato nacional indoor realizado em Lancaster, a sua terra-natal na Pensilvânia, bateu o recorde nacional cadete, júnior e sénior de uma vez. Tinha 13 anos e nunca uma mulher tinha feito melhor nos Estados Unidos.
A semente estava lançada e olhar para Tóquio começou a ser uma obrigação natural para quem começara a fazer história tão jovem, de tal forma que foi forçada a queimar etapas. «Vou começar a competir como sénior em breve. Tenho o objetivo de chegar ao Mundial este ano porque posso, potencialmente, integrar uma equipa com o Brady Ellison [a caminho da quarta edição em Tóquio] e com o Mackenzie Brown, o que seria uma experiência muito gira», disse na altura.
O tiro com arco não é a maior paixão de Casey Kaufhold, é apenas algo em que é mesmo muito boa. Sendo ou não uma candidata às medalhas, sobretudo na variante mista, Casey lamenta que a sua modalidade não possa ser um pouco mais como a ginástica artística.
«Gostava que pudesse provocar aquela adrenalina que existe na ginástica ou na patinagem artística. Sinto falta de atuar perante uma multidão ou de como me sentia ao movimentar ao som da música. Gostava que uma parte do tiro com arco me pudesse dar uma sensação semelhante», afirmou.
Talvez os desportos não pudessem ser mais diferentes. No Japão, Casey Kaufhold não terá adeptos (como nenhuma outra modalidade) e o silêncio será de ouro. Enquanto estiver a competir, terá tudo a passar-lhe pela mente. De como se inspirou em Simone Biles primeiro e Brady Ellison depois. De como queimou etapas durante a sua evolução no tiro com arco para chegar mais longe, mais rápido.
«Não cheguei a competir nos 50 ou nos 60 metros. Com 14 anos passei logo para os 70 para poder alcançar mais rapidamente os meus objetivos», garantiu. Casey é assim. Sabe o que quer e vai atrás disso, de arco e flecha nas mãos para fazer história por si, pelos seus pais e pelo seu país.
Não é à toa que «Don’t Stop Me Now» é a música que prefere ouvir antes de iniciar uma prova importante. Até agora não houve mesmo ninguém que a tivesse impedido de ir saltando etapas. Mas como será no maior palco de todos? Casey não está no top-50 do ranking mundial, mas a sua carreira tem sido uma série de surpresas.