Carlos Lopes. Do atropelamento ao título olímpico
Tinha 37 anos mas foi a tempo de fazer história nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Estava confiante de que ia vencer a medalha de ouro – a primeira para Portugal – e nem o acidente que sofreu duas semanas antes, quando foi atropelado durante um treino na Segunda Circular, o afastou daquele momento histórico.
Carlos Lopes é um nome incontornável do desporto português. A 12 de agosto de 1984, entre a praia de Santa Monica e o Coliseu de Los Angeles, o veterano atleta (o mais velho entre os mais de 100 participantes na maratona) partiu para a corrida da sua vida.
Depois de mais 12 mil quilómetros de treino só naquele ano, Carlos Lopes tinha preparado tudo ao mais pequeno detalhe. Pesava 52 quilos, menos um do que o habitual, para garantir uma eficiência maior perante os mais de 30 graus e 70% de humidade, e tinha recusado ficar na Aldeia Olímpica.
Afinal, a maratona disputava-se no último dia dos Jogos Olímpicos e o atleta do Sporting não queria que nada se intrometesse entre ele e o título que tinha falhado oito anos antes, nos 10 000 metros dos Jogos Olímpicos de Montreal, onde tinha ficado atrás de Lasse Viren.
Quando saiu de Portugal, garantiu que ia para vencer. Mesmo que um susto o tenha quase afastado do evento. A duas semanas da maratona, durante um treino, foi atropelado em frente ao Estádio da Luz por um comandante da TAP, Lobato Faria, antigo candidato à presidência do Sporting. «Parei de respirar nesse dia. Dei duas ou três cambalhotas no ar, parti-lhe o vidro da frente e fiquei todo esfolado», contou numa entrevista. «Não tinha nada partido mas, por precaução, fui ao hospital ver se estava tudo bem. Só voltei a treinar três dias depois», acrescentou.
A partida para os Estados Unidos deu-se com muita expetativa e confiança. Portugal nunca tinha vencido uma medalha de ouro em Jogos Olímpicos e o atleta prometia um título. Com razão. No dia da final, cumprindo à risca a estratégia que tinha delineado, atacou aos 37 quilómetros e deixou toda a concorrência sem resposta.
Quando entrou no estádio já não tinha adversários à vista. «Ver aquela multidão a levantar-se é uma coisa única: 90 mil pessoas para ver a chegada da maratona, não há palavras para descrever. Achamo-nos muito pequeninos no meio daquilo tudo», admitiu.
O momento mais ansiado foi a subida ao pódio, com o hino português a tocar pela primeira vez neste palco. «Foi uma emoção muito grande, poder dar a conhecer ao mundo um hino tão bonito.»
Carlos Lopes reconheceu também que tinha uma motivação extra. «Estava farto de ficar em segundo na classificação de atletas numa revista de atletismo nos Estados Unidos», afirmou. Por isso, naquele ano, além da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos em Los Angeles, também foi campeão mundial de corta-mato em… Nova Iorque.