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É Desporto

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05 de Junho, 2019

Carli Lloyd. Um hat-trick para a história

Rui Pedro Silva

Feito irrepetível na final de um Mundial?

Falhou um penálti no desempate na final com o Japão em 2011 e parece não se ter esquecido desse momento durante quatro anos. No reencontro com as nipónicas, «fechou» a final com três golos nos primeiros 16 minutos da final de 2015. Uma obra-de-arte.

 

Estados Unidos e Japão disputaram a sétima final na história do Mundial de futebol feminino – organizado pela FIFA – quando entraram em campo a 5 de julho. A história dos jogos decisivos tinha momentos de ouro, como o penálti de Brandi Chastain que decidiu o título em 1999 ou o golo de ouro de Nia Künzer em 2003, mas nenhuma jogadora tinha deixado uma marca verdadeiramente poderosa.

 

As seis finais anteriores tinham tido 14 golos, dois deles no prolongamento. E apenas uma futebolista, Michelle Akers, conseguira marcar mais do que um – bisou à Noruega logo em 1991. Quando Carli Lloyd entrou em campo em 2015, não precisou de muito para escrever um dos capítulos mais impressionantes da história.

 

A fase final disputada no Canadá foi riquíssima em hat-tricks. Anja Mittag marcou três golos à Costa do Marfim, Gaëlle Enganamouit não enganou nada e fez três ao Equador. No famoso 10-1 sofrido pelo Equador contra a Suíça houve três exemplos: Fabienne Humm fez história com três golos em cinco minutos (47’, 49’ e 52’), Ramona Bachmann imitou a colega de equipa, precisando de mais tempo, e Angie Ponce foi… insólita: dois autogolos e um penálti na baliza certa.

 

A fase a eliminar trouxe jogos mais equilibrados e as oportunidades de hat-trick secaram… até à final. Mas foi precisamente nesse momento que Carli Lloyd começou a sentir inspiração. Fez um golo à Colômbia nos oitavos, um à China nas meias e um à Alemanha nas meias. Depois, na final, o Japão.

Carli Lloyd (10) no desempate em 2011

A única memória que Lloyd tinha de disputar uma final de um Mundial não era grande coisa. Contra este mesmo Japão, fora titular, sem golos, e desperdiçara um penálti durante o desempate. Desta feita, entrou com a genica de quem não esqueceu e quer garantir que não vai passar pelo mesmo.

 

O 1-0 chegou aos três minutos. O bis aconteceu aos cinco e o hat-trick ficou completo aos 16’, já depois de Lauren Holiday ter feito o 3-0. Assim, num abrir e fechar de olhos, Lloyd entrou para a história. Nunca ninguém tinha feito um hat-trick numa final. E não tinha sido «apenas» um hat-trick: fora num espaço de 16 minutos… nos primeiros 16 minutos do encontro.

 

A goleada final (5-2) foi a conclusão natural de um dia em que Carli Lloyd, prestes a fazer 32 anos, assumiu o protagonismo sozinha. Depois de alcançar o título olímpico em 2012 e 2016, a centrocampista que também sabia jogar na frente alcançava finalmente o que lhe faltava.

 

O feito de Lloyd foi ainda mais impressionante porque desde 1998 que nenhum jogador marcava mais do que um golo numa final sénior da FIFA (Zidane bisou contra o Brasil). E na história do futebol, havia apenas um precedente de hat-trick, quando Geoff Hurst marcou três à República Federal da Alemanha em 1966.

 

O trauma de 2011 pode não ter sido ultrapassado mas a norte-americana fez questão de mostrar ao mundo o que valia quatro anos depois… com estrondo. As exibições valeram-lhe o título de melhor jogadora da prova e os seis golos só foram imitados por Celia Sasic, da Alemanha. Meses mais tarde, a FIFA não teve dúvidas e atribuiu-lhe também o prémio de melhor jogadora do ano.

 

Naquele momento, oito anos depois de ter vencido o MVP da Algarve Cup, o círculo estava fechado. Não havia mais nada a conquistar.