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É Desporto

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05 de Maio, 2020

Bruce Jenner. O recorde do mundo antes de ser Caitlyn

Especial Jogos Olímpicos (Montreal-1976)

Rui Pedro Silva

Bruce Jenner

Resultado modesto no decatlo em Munique-1972 fez com que Bruce Jenner atacasse os quatro anos seguintes com uma perspetiva diferente. Em Montreal, no Canadá, as mudanças na metodologia de treino surtiram efeito, garantiram a medalha de ouro e abriram espaço para o recorde mundial na prova.

Como tantos outros decatlonistas, Bruce Jenner mostrou ser alguém com uma propensão especial para várias modalidades, desde o atletismo ao esqui aquático, passando pelo futebol americano e pelo basquetebol. Mas, depois de se especializar no decatlo, foi um instante até atingir os Jogos Olímpicos em 1972, na República Federal da Alemanha, quando tinha 22 anos.

O resultado deixou-o insatisfeito. Terminou na décima posição, longe do campeão olímpico, e cedo percebeu que tinha de atacar esta especialidade de outra forma. A partir daí, em vez de treinar em grupo com os melhores decatlonistas do país, decidiu encontrar parceiros especialistas em cada uma das modalidades.

Os resultados foram imediatos. Ao treinar sempre com atletas que lhe eram superiores, individualmente, em cada uma das provas, conseguiu melhorias evidentes em vez de se manter estagnado com atletas que, sendo decatlonistas, não têm a mesma capacidade em cada uma das especialidades.

Foi com esta mentalidade que Jenner chegou a 1976, no Canadá. «Em 1972, decidiu que ia dedicar-me a isto durante quatro anos e que depois prosseguiria com a minha vida. Entrei na competição sabendo que seria a minha última prova. O sacrifício é enorme sempre que treinamos. E, quando este decatlo terminar, terei a minha vida toda para recuperar.»

Foi com esta mentalidade de tudo ou nada que Bruce Jenner entrou em competição no primeiro dia. O grande favorito, o soviético Mykola Ailov, que tinha sido campeão em 1972 com mais 700 pontos do que o norte-americano, voltou a mostrar-se muito forte e terminou a primeira sessão na frente, mas Jenner estava confiante: «Todas as minhas provas preferenciais estão no segundo dia».

E, de facto, o que se passou no segundo dia validou tudo o que Bruce Jenner tinha feito e pensado durante os quatro anos anteriores. Mais do que isso, entrou para o evento final, os sempre extenuantes 1500 metros, com o recorde do mundo no horizonte. Apesar de terminar a corrida na segunda posição, conseguiu somar 714 pontos que eram mais do que suficientes para estabelecer um novo máximo mundial (8618 pontos).

No momento dos festejos, inaugurando uma tradição banal hoje em dia, recebeu uma bandeira dos Estados Unidos das bancadas, e percorreu a pista exibindo-a orgulhosamente. Depois, fiel à sua promessa, seguiu em direção ao pôr-do-sol sem nunca mais olhar para o desporto.

Hoje, Bruce Jenner já não existe. Figura mediática há mais de uma década, por participar no reality show da família Kardashian, Bruce anunciou-se em 2015 como mulher, começando a responder pelo nome Caitlyn e dando início ao processo de transformação.