Bobsleigh. A Jamaica… está de volta
O país famoso pelos seus velocistas tornou-se uma das melhores histórias dos Jogos Olímpicos de Inverno com a participação de quatro atletas no bobsleigh em Calgary-1988. A modalidade passou a ser cada vez mais acarinhada e agora, pela primeira vez, terá duas mulheres a participar no evento ao mais alto nível.
A tradição ainda é o que era
O nome Chris Stokes diz-lhe alguma coisa? Podem googlar, nós esperamos.
Os resultados não são grande ajuda. Primeiro aparece um realizador norte-americano, nascido em 1973, depois é a vez de um futebolista, nascido em 1991 e que pertence aos quadros do Coventry City, uma equipa inglesa que teve os seus tempos de glória na Premier League durante a década de 90.
O terceiro resultado é o que nos interessa: Chris Stokes, o atleta de bobsleigh. Ex-atleta, na verdade. Mesmo que tenham visto o filme Jamaica Abaixo de Zero (Cool Runnings), a história sobre a aventura de quatro jamaicanos que decidiram competir nos Jogos Olímpicos de Inverno em Calgary-1988, é difícil chegar lá. Os nomes eram outros.
Mas Chris Stokes é o exemplo perfeito do impacto da Jamaica nos Jogos Olímpicos de Inverno e mesmo da forte relação entre o atletismo e o bobsleigh. Stokes nunca participou nos Jogos Olímpicos de Verão, apesar de ter tentado, e por isso não faz parte de um dos 34 atletas na história que já juntaram participações nas duas modalidades no evento desportivo mais importante do mundo.
Chris, juntamente com o irmão Dudley, Devon Harris e Michael White compuseram a primeira equipa jamaicana de bobsleigh na história. E foram uma das melhores histórias de Calgary-1988, a par da participação do britânico Eddie Edwards nos saltos de esqui, ofuscando por completo a participação menos espetacular e menos mediática da equipa portuguesa.
Ali, em 1988, nasceu uma tradição jamaicana e Chris Stokes fez questão de ser presença assídua, voltando a competir em 1992, 1994 e 1998. Quando terminou a carreira, já como presidente da federação jamaicana da modalidade, ajudou a manter viva a tradição, com nova dupla em 2002.
A estatística é arrebatadora: a Jamaica tem sete participações em Jogos Olímpicos de Inverno e Errol Kerr é o único atleta que não participou no bobsleigh – esteve no cross country em Vancouver-2010, numa edição em que os jamaicanos estiveram ausentes do bobsleigh pelo segundo evento consecutivo.
Este ano, a Jamaica vai dar um novo passo na modalidade ao participar no evento feminino pela primeira vez. E, como não podia deixar de ser, Chris Stokes está diretamente ligado. Afinal, continua a ser o presidente da federação.
Com a velocidade no sangue
Um bom arranque no bobsleigh é decisivo para conseguir um bom tempo. É por isso que a velocidade dos seus atletas, aliada à capacidade de empurrar o trenó, é tão importante. Se esse é um bom começo, os jamaicanos não têm razão de queixa: a velocidade está-lhes no sangue.
Jazmine Fenlator e Carrie Russell não são exceção. Não só começaram a praticar desporto no atletismo como a segunda até tem medalhas para mostrar: foi campeã do mundo na estafeta dos 4x100 metros em Moscovo-2013.
A história de Fenlator é diferente. Fez atletismo até 2007, ano em que optou pela transição para o bobsleigh… nos Estados Unidos. Filha de pai jamaicano e mãe norte-americana, entrou no sistema de formação dos Estados Unidos e só parou nos Jogos Olímpicos de Sochi, há quatro anos.
Mas Fenlator queria mais. E um dia, em 2015, em conversa com o marido, percebeu o caminho que queria seguir. «Quero ter impacto, quero fazer algo com significado. Claro que quero ganhar uma medalha e ser competitiva, mas além disso quero mais.»
O mais é servir de exemplo e inspiração: «Vai ser a minha segunda participação mas é tão especial como a primeira. Quero provar que não interessa se vens de um sítio com frio ou com neve, ou qual é o teu passado no desporto. Se tens a habilidade e o desejo, podes concretizar os teus sonhos».
A dedicação de Fenlator é tão grande que até já usou o Twitter para tentar seduzir as grandes velocistas jamaicanas, como Shelly-Ann Fraser-Pryce e Elaine Thompson, a experimentarem o bobsleigh. «Divirto-me mas estou a falar a sério. Basta experimentar uma vez para perceber o que é e abrir os olhos», contou.
Carrie Russell não precisou de ser convencida e a recompensa chegou na altura certa. «É um dos momentos mais felizes da minha vida», disse depois de garantido o apuramento. «Nunca pensei que me iria tornar uma atleta olímpica.»
A dupla, que tem ainda Audra Degree de prevenção, será uma das vinte a competir em PyeongChang e pode alcançar um resultado muito positivo, garante Chris Stokes: «A Jazmine Fenlator é uma das melhores condutoras do mundo. Temos a condução, temos a capacidade atlética e temos o equipamento para alcançar um bom resultado».
O que será um bom resultado? A ideia é estar entre as dez primeiras. O sétimo lugar no Mundial em dezembro serviu de aperitivo.
RPS