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É Desporto

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08 de Maio, 2019

Birgit Prinz. A adolescente que gravou um lugar na história

Rui Pedro Silva

Birgit Prinz em cima do lado direito (16)

Quando a Alemanha chegou ao Mundial da Suécia, em 1995, Birgit Prinz já não era apenas uma jovem a dar os primeiros passos ao serviço da seleção. Internacional desde o ano anterior, tinha apenas 17 anos quando se sagrou campeã europeia pela primeira vez, em março de 1995, após vitória sobre a Suécia (3-2).

Prinz marcou na final do Europeu. Tal como já tinha marcado na segunda mão da meia-final contra a Inglaterra. A atacante podia estar longe de ser o símbolo do ataque germânico, como viria a ser durante o início do século XXI, mas nem por isso deixava de ser uma sensação da equipa que seria vice-campeã mundial na Suécia.

A veia goleadora da alemã ainda não transportava muito sangue por esta altura. Em toda a fase final do Mundial, marcou apenas por uma vez, no último jogo da fase de grupos, frente ao Brasil – também o único em que foi titular. Do outro lado, tinha uma ex-guarda-redes de andebol, Margarete Pioresan, mais conhecida por Meg, que estava a entrar na história das fases finais: nunca uma guarda-redes tão velha disputou uma partida. Tinha 39 anos.

Quando Prinz nasceu, a 25 de outubro de 1977, Meg já estava na universidade a jogar andebol. Curiosamente, o futebol ainda não tinha entrado na sua vida. Praticamente duas décadas depois, o destino das duas futebolistas cruzou-se e, se uma estava a fazer história por ser demasiado velha, a outra também iria entrar nos livros da FIFA por ser muito nova.

Foi o que aconteceu na final contra a Noruega, a 18 de junho. Prinz pode ter sido substituída ainda na primeira parte mas já se tinha tornado a mais jovem atleta, até hoje, a disputar uma final da competição. Tinha apenas 17 anos e 236 dias.

Na altura, esse era o recorde ao qual se podia agarrar, mas tinha uma vida inteira pela frente. Os números em fases finais não deixam dúvida sobre o quão especial Birgit Prinz foi durante a carreira. Em 2003 foi a melhor marcadora, com sete golos, e recebeu o troféu de melhor jogadora da competição. Quatro anos depois, na China, capitaneou a seleção alemã rumo ao segundo título consecutivo.

Alemã foi estrela da seleção

A hegemonia germânica no futebol feminino tornou-se indissociável do melhor período da carreira de Birgit Prinz. Ao serviço do FFC Frankfurt, venceu sete vezes o título alemão e três vezes a UEFA Women’s Cup. A nível individual, foi a jogadora do ano para a FIFA em 2003, 2004 e 2005.

O currículo crescia ano após ano e as participações em fases finais do Mundial surgiam com naturalidade. Prinz foi a única alemã a jogar em todos os encontros da Alemanha em 1995 (finalista vencida), 2003 e 2007 (campeã mundial). É também graças a isto que é, ainda hoje, a única mulher a disputar três finais FIFA. Em 2003, rumo ao primeiro título da Alemanha, garantiu novo recorde que ainda perdura: marcou em cinco jogos consecutivos. E continua a ser a única jogadora a marcar cinco golos em pelo menos duas fases finais.

Birgit Prinz disputou um total de cinco Mundiais – a Alemanha desiludiu em 1999 e 2011 – mas o palmarés da avançada, pela seleção, não se limitou às provas organizadas pela FIFA. Além do título europeu de 1995, Prinz repetiu a façanha com a Alemanha em quatro outras edições e conta também com três medalhas em Jogos Olímpicos. Foi bronze em 2000, bronze em 2004 e… bronze em 2008.

O sucesso de Birgit Prinz no futebol feminino foi tão contundente que chegou a ser assediada pelo presidente do Perugia, Luciano Gaucci, para se tornar a primeira mulher a jogar na Série A masculina. Gaucci não era novo nestas andanças: foi ele que contratou Nakata ainda durante a década de 90, que permitiu a Carolina Morace tornar-se a primeira mulher a treinar uma equipa profissional em Itália (Viterbese-1999), que despediu o sul-coreano que eliminou a tália do Mundial-2002 e que contratou o filho de Muammar Kadhafi, ditador líbio. A ideia com Prinz era apenas mais um passo mediático para o seu império.

Presidente e futebolista chegaram a reunir-se e adiaram uma decisão definitiva para a semana seguinte. Gaucci insistiu, mais do que uma vez, que não haveria regulamento que pudesse proibir Prinz de alinhar pelo Perugia: «É uma cidadã de um país da União Europeia. Repito que não há nenhuma lei que a impeça de jogar entre homens».

O negócio não avançou, por vontade de Prinz. «Já tomei a minha decisão, especialmente por razões desportivas. Jogo futebol por prazer e se estiver entre homens corro o risco de ter apenas alguns minutos ou de nem sequer ser utilizada.»

Afinal, Prinz não precisava de jogar entre homens para ter um lugar na história. Ela foi, praticamente desde o início, uma das melhores de sempre.