Bill Walton. O dia em que a perfeição ficou tão perto
UCLA venceu a final contra Memphis State (87-66) em 1973 mas a maior história foi a exibição individual do futuro jogador dos Portland Trail Blazers. Em 33 minutos, o poste tentou 22 lançamentos e só falhou um. Os 44 pontos continuam a ser reflexo de um dos melhores desempenhos de sempre de um jogador numa final universitária.
Um extraterrestre entre humanos
John Wooden era o melhor treinador na história do basquetebol universitário e UCLA era a equipa mais dominadora, com seis títulos consecutivos e oito dos últimos nove. Juntos, os dois tornaram-se num sinónimo de hegemonia e de supremacia perante a concorrência.
Mas em 1973, ano da sétima vitória consecutiva, o protagonismo foi assumido por Bill Walton. O poste que já na altura tinha problemas físicos recorrentes fez a partida da sua vida e assumiu um papel de enorme relevância na história da NCAA.
A estatística ajuda a demonstrar que Bill foi um extraterrestre entre humanos: 22 lançamentos tentados, apenas um falhado. E mais: teve quatro cestos anulados por… afundanço, um legado que tinha sido deixado por outro jogador dominador de UCLA, mas na década de 60: Lew Alcindor (hoje conhecido por Kareem Abdul-Jabbar).
Com 44 pontos da sua maior vedeta, UCLA não teve problemas em derrotar Memphis State na final disputada a 26 de março de 1973, em St. Louis. O resultado (87-66) garantiu a 75.ª vitória consecutiva dos UCLA Bruins mas é um pouco enganador. O desequilíbrio só foi possível por causa de Bill Walton.
Faltas condicionaram tempo de jogo
Bill Walton jogou 33 dos 40 minutos e só não esteve mais tempo em campo por causa da acumulação de faltas. Com três na primeira parte, quando UCLA vencia 37-31, Wooden decidiu fazê-lo descansar até ao intervalo. Resultado: Memphis State recuperou e foi para o balneário com um empate a 39.
A lógica do encontro era muito simples. UCLA podia ser uma equipa dominadora, com um verdadeiro legado na NCAA, mas ali, naquele ano, naquela final, só era o que era por causa de Bill Walton. Com ele, era insuperável. Sem ele, era uma equipa vulnerável, capaz de ser derrotada por uma equipa bem organizada e inspirada.
Wooden aprendeu bem a lição. Quando Walton cometeu a quarta falta a dez minutos do final do encontro – ficando a apenas uma da exclusão – não foi protegido. Era preciso tê-lo em campo, a exercer a sua influência e a garantir que o triunfo ficava no bolso. Até porque o 67-61 não transmitia grande confiança.
Memphis State tentou de tudo para controlar Walton, sem sucesso. «Não conseguimos. Nunca vi um jogador tão dominador», disse o treinador Gene Bartow no final do encontro. E não havia mesmo solução: podiam trocar de marcador, juntar dois jogadores a fazer oposição ou marcação individual… o insucesso era constante.
O lance que manchou a estatística
O raro tem sempre mais valor do que o frequente. É por isso que numa noite em que Bill Walton foi a maior estrela de todas, a maior memória se centre no lançamento falhado e não nos 21 que acabaram por entrar no cesto.
Até para Bill. «Lembro-me perfeitamente. Lembro-me que a seguir ao lançamento falhado ganhei o ressalto e marquei dois pontos», começa por dizer à ESPN. «Estava sozinho, mesmo em frente ao cesto. Soube que ia falhar assim que a bola me saiu da mão e foi por isso que reagi tão rápido. Assim que voltei ao chão, saltei novamente para fazer o ressalto e marcar os dois pontos.»
A exibição de Bill Walton foi premonitória. Depois de tanto brilhar, foi forçado a sair de campo a 2’51’’ do final, a coxear. Tinha-se lesionado no joelho e no tornozelo. A vitória estava garantida e os 19301 fãs presentes no pavilhão presentearam-no com uma ovação de pé.
Todos sabiam que Walton tinha conseguido algo especial. Mesmo que o demonstrassem de forma curiosa: «O treinador Wooden olhou para mim e disse-me: “Ei, Walton. Costumava achar que eras um bom jogador… até teres falhado aquele lançamento».
Bill Walton continuou em UCLA por mais uma temporada até sair para a NBA: primeira escolha do draft em 1974 (Portland Trail Blazeres). Numa carreira fortemente marcada por lesões, somou dois títulos: um em Portland em 1977 e outro em Boston em 1986. Pelo meio, foi considerado o melhor jogador da fase regular em 1978 e foi pai de Luke Walton, atual treinador dos Lakers.