Batalha de Highbury. Uma guerra com Stanley Matthews e Giuseppe Meazza
Jogo foi sugerido por Benito Mussolini e vendido como um confronto de ideologias. Para os ingleses, ausentes do Mundial em 1934, era a oportunidade perfeita para mostrar quem seria verdadeiramente a melhor equipa. Com figuras históricas como Stanley Matthews e Giuseppe Meazza em campo, o encontro ficou famoso pela agressividade. Foi há 82 anos.
Orgulho em jogo
Quarta-feira, 14 de novembro de 1934. A Itália é campeã mundial de futebol depois de ter vencido a Checoslováquia na final de Roma meses antes, mas tem um desafio imposto por Benito Mussolini: derrotar a Inglaterra.
O ditador quer que este duelo seja um confronto de ideologias, na antecâmara da II Guerra Mundial, e está disposto a fazer tudo para motivar os seus jogadores: um prémio individual de 150 libras, isenção de serviço militar e… um Alfa Romeo.
Do outro lado, é o orgulho que está em jogo para os ingleses. De fora da FIFA por opção própria desde 1928, os ingleses chamam a esta partida de Highbury a verdadeira final do Mundial. Afinal, estarão frente-a-frente a nação que fez nascer o futebol e que ainda não perdeu qualquer jogo em casa e o país que acaba de vencer o Mundial.
Os contactos entre as duas seleções é feito por Vittorio Pozzo, selecionador italiano que falava inglês. A ideia é simples: organizar um jogo particular que ajude a perceber definitivamente qual é a melhor equipa do mundo. Benito Mussolini não assistirá ao jogo – está em Berna – mas exige ser informado regularmente sobre o seu desenrolar.
Os ingleses morderam o isco e nas vésperas o «Daily Mail» escrevia que aquele seria «o jogo de futebol mais importante já jogado desde a Grande Guerra». Os adeptos não quiseram faltar ao evento e o estádio do Arsenal recebeu mais de 50 mil espetadores.
Mau prenúncio
A tensão acumulada para o encontro demorou dois minutos a fazer-se notar: Ted Drake partiu o pé a Luis Monti e os italianos não mais recuperaram. O último defesa do sistema de Pozzo ainda se aguentou até aos 15 minutos, mas por essa altura já a Inglaterra vencia por 3-0, com dois golos de Erick Brook e um de Ted Drake.
Numa altura em que as substituições ainda não eram permitidas, os italianos ficaram reduzidos a dez, magoados no físico e no orgulho. A saída foi tornar o jogo ainda mais violento. Stanley Matthews, figura mítica do futebol internacional, tinha 19 anos, cumpria a primeira de 23 épocas ao serviço da seleção e estava apenas no seu segundo jogo. «Ao intervalo, o nosso treinador disse-nos para continuarmos a jogar futebol. Fiquei aliviado, porque se entrássemos no jogo deles, a partida transformar-se-ia num autêntico banho de sangue», disse na altura.
Não se pode dizer que não tenha acontecido. A edição do «Guardian» no dia seguinte transmitia bem o efeito da agressividade: «O jogo foi de um caráter de robustez invulgar e muitos jogadores ingleses sentiram isso na pele. Hapgood, o capitão, partiu um osso no nariz; Brook teve de ir fazer uma radiografia ao braço na noite passada [estava partido], Bowden lesionou-se num tornozelo e Drake, o avançado, tem uma perna fortemente magoada.»
Em Itália, apesar da derrota (Giuseppe Meazza bisou na segunda parte e fixou o resultado em 3-2), a exibição estóica dos jogadores foi destacada. Tanto que os jogadores que fizeram parte do encontro passaram a ser conhecidos por «Leões de Highbury».
«Não foi um jogo de futebol, foi uma batalha», disse um jogador inglês. A Batalha de Highbury.