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É Desporto

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21 de Julho, 2021

Barbra Banda. Muito mais do que uma pugilista a fazer três golos

Rui Pedro Silva

Barbra Banda

A estreia de Barbra Banda nos Jogos Olímpicos foi um misto de sensações agridoces. A futebolista brilhou com três golos marcados aos Países Baixos mas a Zâmbia sofreu uma goleada pesada (10-3). Numa tarde em que a seleção africana foi ao tapete, praticamente derrotada por knockout, os únicos socos que as zambianas conseguiram desferir foram dados precisamente por uma antiga pugilista.

Barbra Banda não desistiu. Começou a dar nas vistas logo nos minutos iniciais, marcou o primeiro golo quando a Zâmbia já perdia por 3-0 e voltou a marcar – em duas ocasiões quase consecutivas – na reta final do encontro. Foi ela a dar cor a um jogo que de outra forma seria terrível e para esquecer. Foi ela que fez jus a toda a sua vida, à vida de uma atleta que se destaca entre as demais, dentro e fora do campo.

As origens desportivas são a primeira nota a destacar. Barbra Banda tem 21 anos, joga futebol, vive na China e está a competir em Tóquio. Mas há não muito tempo começou a sua carreira profissional como pugilista. E não era má. Aliás, era tão boa que até venceu os primeiros cinco combates da sua carreira.

A herança familiar foi decisiva para a desencaminhar. O pai foi jogador de futebol e inspirou-a desde jovem a seguir o mesmo caminho. O boxe foi um atalho desportivo mas o futuro, como se provou contra os Países Baixos, estava mesmo no futebol.

A história está a ser feita etapa atrás de etapa: a Zâmbia nunca tinha conseguido o apuramento olímpico para o torneio feminino mas fê-lo com Banda na equipa, com a braçadeira de capitã. Fê-lo com a sua jovem e talentosa futebolista a servir de exemplo num país em que o futebol é rei mas tem pouco de... rainha.

«Concentram-se mais no campeonato masculino. Só olham para nós quando conseguimos bons resultados. Não temos patrocinadores, por isso é muito difícil reunir condições para melhorarmos, mas estamos a progredir a pouco a pouco», afirmou.

Para Barbra Banda, a sua experiência, apesar dos 21 anos, tem sido decisiva. O boxe ajudou, é claro, sobretudo a aumentar a velocidade de raciocínio e a importância de equilibrar o ataque com a defesa, mas num país onde os apoios para o futebol praticado por mulheres são escassos, foi a saída para o estrangeiro que se revelou decisiva.

Aconteceu em 2018 e para o futebol espanhol. «Aprendei a entender o jogo. A forma como jogava na Zâmbia e na Europa era muito diferente. O futebol espanhol é mais desenvolvido e a liga é muito competitiva. Jogar lá ajudou-me a progredir em muitos domínios, aprendi muito, nomeadamente a nível tático, de estratégia e de estilos de jogo», disse.

De Espanha saiu para a China e em 2020 sagrou-se a melhor marcadora do campeonato, com 18 golos. Mas, tal como na derrota com os Países Baixos, às vezes não se trata apenas dos golos que marca mas sim do significado que está por trás daquilo que faz. E se Barbra Banda tem apenas 21 anos, é impossível fugir à ideia de que está a fazer mais pelo desporto e pela sociedade zambiana do que muita gente décadas mais velha.

A Fundação Barbra Banda, criada já este ano, é um instrumento fundamental para ajudar a apoiar e promover o desporto feminino na Zâmbia e, ao mesmo tempo, apelar à igualdade e ao combate à violência de género.

«Como tanta gente, não venho de um meio de abundância e, como tal, compreendo o que significa procurar ajuda e não encontrar ninguém disposto a apoiar. Também já sei quão mais fácil a vida se torna quando há gente a ajudar-te nos teus objetivos. A desigualdade económica, a violência de género, a falta de acesso a oportunidades, a gravidez adolescente e o casamento prematuro são alguns dos maiores problemas que as mulheres e as raparigas enfrentam atualmente e o nosso objetivo é ajudar a aliviá-los com o poder do desporto.»

Digam lá: acham mesmo que o mais importante de Barbra Banda foram os três golos que marcou aos Países Baixos?